Caminho meio ausente. Perambulo pela livraria e penso: escrever é passado. Revisitar o que ainda guardo na memória. Compro noturnos e sonatas e livros. Ordenar tem que ser mais do que passar lençóis, dobrar roupas, arrumar gavetas, apontar lápis, comprar novas borrachas, ou pijamas. Ordenar seria te ver. E te tocar. Eu quero.
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Lírios em botões. Hortências azuis. Sabes o que eu gostaria de fazer? Viajar sem bagagem levando apenas a juventude.
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Finalmente a visita. Quieta, paralisada. Estupefata. Nada está em ordem. Não importa. Talvez possamos apenas caminhar, caminhar. Faz frio! Comprei alfazemas. Passei álcool nos vidros. Deixei livros espalhados pelas mesas.
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Persigo sombras num jogo lúdico. Brincadeira séria. Mas tu sabes, eu sei que não sabemos nada de ciranda. Estamos tensos. O melhor seria aquela pedra em cima de tudo. Mas não consigo te esquecer, então decides vir …, decides aplacar esta curiosidade amorosa e inquieta. Examino meu rosto. Marcas rugas, e a boca não é a mesma. Não sou definitivamente a mesma. Terei coragem de me despir? E de te beijar e tocar sabendo que és só um momento, só aquele agora …, sabendo que és o menino sorridente brejeiro. Marcas da idade acentuadas. Se eu fizer uma maquiagem escondo ansiedade alegria tensão, mas não o desejo de te devorar. A menina distraída se descola e enxergas/vês uma velha senhora ansiosa. Cinquenta anos para este olhar. ”…, sabes como me sinto neste momento? Em paz tranquila e enroscada em ti na maturidade de nossas vidas. Incrível intimidade que nunca existiu e parece nunca terminar”. Beth M.B. Mattos – junho de 2018 Torres
