sair e se perder

“A ideia das páginas desaparecidas não tinha saído a contento, e ele a arquivara e esquecera.”Philip ROTHHHHHHH dois

Não desisto. Fantasma / gente / pessoa segue na minha vida e faz o dia continuar sem interromper, nem por um minuto, a ideia errada ou nova ou estranha de que acordo ao teu lado no amor amanhecendo… Penso no invisível. Nós dois.

Converso com quem está na calçada, abraço a filha. Faço caretas: não vou viajar. Deveria. O dia está lindo! Lindíssimo.

Agora, porém, ele se deu conta de que poderia dar a essa historinha sobre uma guerra entre linguagem e o silêncio um significado que não era somente linguístico; percebeu que a história ocultava em seu interior uma parábola sobre liberdade e tirania cujo potencial finamente compreendera. A história estivera além dele, por assim dizer, e agora sua vida pessoal o alcançara. (p.166) Salman Rushdie – Joseph Anton Memórias. 

Estou a misturar leituras, emoções genuínas. Particularidade: bordado necessário,  decifro teu abraço. Agarro a coragem silenciosa para escrever. Escrever pode ser pintar, pintar e pensar em nós dois. Jogar tinta na tela, na pele e esconder o primeiro desenho indefinido. Lá estou eu incapaz, espichada, tropeço. Priorizo a dor na perna esquerda, o silêncio. Três livros abertos, uma voz fantasma, e sou eu a pedir perdão, outra vez. Que seja perdoada. Leio releio, leio A MALETA DO MEU PAI de Orhan Pamuk, – Flávio Xavier tem razão, livro precioso:“Escrever é transformar em palavras esse olhar para dentro, estudar o mundo para o qual pessoa se transforma quando se recolhe em si mesma – com paciência obstinação e alegria”. (p.13) Orhan Pamuk. Atrapalha esta carência-fantasia  a imaginar o encontro: tua voz, teu olhar, tua sedução. Como seria bom conversar contigo! (suspiro sorrindo) Beber água / vinho / leite  ou café e poder te espiar / olhar. Sigo apaixonada. Insistente, desvio do que de fato importa. Brinco com bolas de gude, e sonho sonho açucarado. Achas graça: a vida é assunto sério. Vou / devo / terei que me dar conta… Beth Mattos – janeiro de 2019 -PhilipRoth OrhanPamuk SalmanRushdie EliasCanetti GustaveFlaubert PaulAuster MachadodeAssis HenryMiller PauloHeckerFilho MilanKundera JavierMaríasJaneAusten MarianaAlcoforadoGabrielGarciaMarquez Krishnamurti Anaïs NinnClarice Lispector J.M.CoetzeeAmósOzKatherineMasfield AdéliaPrado e Francisco Brennand

retomar tomar voltar

“Paris,

14 de janeiro. 1957

[…] Agora irei retomar minha pobre vida tão monótona e tranquila, (refere-se ao frisson provocado pela publicação de Bovary na Revue de Paris) em que as frases são aventuras e em que não se recolhem outras flores a ser as metáforas. Escreverei sem qualquer interesse, como no passado, pelo único prazer de que escrever, para mim só sem fazer barulho , sem qualquer interesse em dinheiro. Apolo sem dúvida me acolherá e chegarei um dia talvez a produzir algo belo! pois tudo cede, não é verdade, à persistência de um sentimento enérgico. Cada sonho acaba por encontrar sua forma, há água para todas as sedes, amor para todos os corações. E depois nada faz a vida passar  melhor que a preocupação incessante com uma ideia, com um ideal, como dizem as cocotas… Loucura por loucura, ficamos com as mais nobres. Já que não podemos arrancar o sol, é preciso fechar todas as nossas janelas e acender as luzes do nosso quadro.”(p.165)  A Mme. Maurice Sclésingeer – Gustave Flaubert – Cartas Exemplares

Gosto de cartas. Escrevo freneticamente muitas, e muitas cartas. Ler intimidade, espiar. Entrar / imaginar outro mundo / outro tempo.  Sigo assustada e perdida longe de ti. Escrevo na esteira de novas possibilidades de retomarmos palavra / voz, intenção. Eu me acostumei, mal acostumei com tua presença. Saudade.

Meu querido, choramingo: perdoa. Tua interferência foi correta, mas sem energia sinto a tua falta. Escuto tua voz. Coisas de menina apaixonada. Recomeçar do zero e do nada. Difícil. Vou conseguir.  Não sei se vale o esforço. Estou a me pedir perdão todos os dias… Se eu pudesse me esconder! Encontrar ânimo e prazer! Poderíamos recomeçar juntos? Gostamos das mesmas coisas. Gosto do teu esconderijo. Do teu beijo, tua fantasia, tua voz, tua irreverência, teus equívocos, teus cães. Tua saudade, tua resistência. Gosto desta sombra e da dança. Gosto deste amor desgovernado. E.M.B.Mattos – janeiro 2019 – Torres

livro aberto

Todas as letras, sem corte. Interpretar o possível…  Um livro aberto ao acaso pode assustar! Céus! Dizem que hoje a terra pega fogo e o céu se fecha.

Enlouquecer pode ser bem simples! Infernal calor,  terrível frio… O vento, a geada, o silêncio completo, a guerra. E não escrever. Por onde caminha o fantasma maior? Dor esquecida. Memória ridícula. Distração e  inconsciência. Colégio, exercício físico, jejum, lições de latim. E desfazer… Irreverência! É preciso abrir caminho. E.M.B.Mattos 2019

 

barganhar

A pessoa quer ajudar, não sabe. Quer dizer e não fala. Grita.

Quer consolar mas agride, quer perdoar, não consegue. Quer entender confunde.

Que droga! Em excesso o sentimento transborda. Vira catástrofe. Inundação, horror! Seria tão fácil dar as mãos e seguir, confiar! Não! Estamos sempre a comprar/barganhar a novidade. Há que encontrar a tal resiliência, e se deixar ficar. E me culpo… E.M.B.Mattos 2019

quadro geraldo pintado pelo pedro

Óleo sobre tela – Pedro Moog

inquietação

“Trago dentro dos olhos essa cor da distância

quando o mar e o céu se misturam

e há um pouco de mar no céu

e há um pouco de céu no mar …

 

Que mundo imenso o mundo que há no meu olhar… “J.G.de Araujo Jorge -AMO! Poesia

Estou sem voz. Esvaziada. Esquisita. Desanimada. “Mas sofrimentos desta espécie não destroem a qualidade essencial da vida, como o fazem os que nascem do desgosto com o próprio ser. Além disso, cada interesse externo inspira alguma atividade que, enquanto o interesse permanece vivo, constitui um preventivo completo contra o tédio. O interesse por si mesmo, ao contrário não conduz a nenhuma atividade construtiva. Poderá fazer com que se escreva um diário, com que se seja psicanalisado, ou, talvez, com que a gente se torne monge. Mas o monge não será feliz enquanto a rotina do mosteiro não fizer com que se esqueça da própria alma. […]

Tem de si mesmo uma imagem como acha que ele deveria ser, e que está em constante conflito com o conhecimento de si próprio como ele é. […]

No fundo, ele ainda aceita todas as proibições que lhe foram ensinadas na infância.” (p.19-20 )Bertrand Russel – A Conquista da Felicidade (p.19-20)

tristezas

“Creio que quase todas as nossas tristezas são momentos de tensão que sentimos como uma paralisia porque não mais ouvimos nossos sentimentos de estranheza com a vida. Porque estamos sozinhos com o desconhecido que entrou em nós; porque tudo que é habitual nos foi retirado por um instante, porque estamos no meio de uma transição em que não podemos parar. Por isso a tristeza também passa: o novo em nós, o acrescido, entrou em nosso coração, foi para seu mais intimo reduto e também não está mais lá, já está no sangue. E não ficamos sabendo o que foi. Facilmente poderíamos acreditar que nada aconteceu, e mesmo assim nos transformamos, como uma casa se transforma quando entra um hóspede.”  Rainer Maria Rike -p.175 – A melodia das Coisas 

Para Fernando: a conversa vai ser lenta mansa e nossa. E a tarde terá a luz que importa. Elizizabeth M.B.Mattos – Torres janeiro de 2019

TORRES foto João lindaaaaaaaaaaaaaaaaaaa mar e rocha

Foto de João Brentano – Torres – 2019

coragem

É preciso coragem para ir até o lado ‘mau’ de nós mesmos, e considerar que pode ter um papel construtivo a desempenhar em nossa vida. É preciso coragem para olhar diretamente a fragmentação de nossos desejos e ansiedades. Um lado parece dizer sim, enquanto o outro diz não, com veemência. Um lado da minha psique pede relacionamento, segurança e estabilidade. O outro quer partir para as heródicas cruzadas, anseia aventuras em lugares exóticos, viajar para outro lado do mundo e viver como cigano. Já uma outra personalidade quer construir um império e consolidar seus sistemas de poder. Por vezes, essa discussão parece não ter solução e nos sentimos dilacerados pelos conflitos entre desejos, deveres e obrigações.” (p.47) Robert A.Johnson – INNER WORK A chave do Reino Interior