menos convencional

Esconder-se atrás das citações pode ser um jeito menos convencional de fazer silêncio, ou será dizer fantasiar-se, e, assim, “pular carnaval”, carnavalescamente, soltar sentimentos. Elizabeth M.B. Mattos – março de 2022 – Torres – e, a guerra (a morte) continua: as explicações / motivos estão num lugar inacessível.

” […] a leitura dos livros ensinaram-me a diferença existente entre a aparência externa convencional e a moral íntima de cada um. Os homens não externam tudo, mas quando se adquire, como eu, o hábito de certas reticências, percebe-se rapidamente que elas são universais. […] Na verdade, muitas pessoas aprendem a conviver com instintos iguais aos meus. Não é tão raro nem, sobretudo, tão estranho. Detestava-me por ter/haver levado tão a sério (quase ao trágico) os preceitos que tantos exemplos desmentem. Afinal, a moral humana é apenas um grande compromisso. Bom Deus! Não censuro ninguém. Cada um abriga em silêncio os seus segredos, sem jamais confessá-los a si mesmos. E dizer que tudo se explicaria se todos não mentissem tanto!” (p.110-111) Marguerite Yourcenar Alexis ou O Tratado do vão Combate

Ainda na casa da rua Vitor Hugo, 220 – Petrópolis – Porto Alegre, antes dos 15 anos / cães, e, certezas.

volta, volta amor, volta indiferença, volta o sentimento, a espera, o desespero também volta “il n’en reste rien”

Je me suis écoulé comme le vent du désert, qui d’ abord chasse des larmes de sables pareilles à une charge de chevaliers, et qui enfin se dilue et s’épuise; il n’en reste rien” […]

Le Prince de la Mer

Seigneur, la gravité de la chose móblige à basculer vos gardes. Une offense odiuse a été faite à Votre Majesté, dont la réparation exige des ordres immédiats. […]

Ferrante

Personne donc ne gardait la mer devant la côte du sud? […]

(p.124-125) Henry de Montherland La reine morte / Gallimard – Collection Folio

O castelo de Helsingor

A felicidade transborda, a de dentro, por dentro. Eu esperava o último volume, depois, deixei de querer, de pensar, esperar, e fui me acomodando em outras leituras, enfeitiçada por outros encontros, outros amores, outros desejos, outras entregas. Choramingando, mas aceitado. E súbito estou outra vez na Noruega, entregue, querendo ir, e, quem sabe, nunca mais voltar. Quem acompanhou o meu encontro com com Karl Ove sabe. Eu entrei nos navios, eu zarpei pelos mares gelados. Chegou o sexto volume / Minha Luta encerra com o livro O FIM (este volume de 1047 páginas). Tensa, assustada, envolvida com a guerra real acontecendo… tomada pela tensão, eu ouso abrir o livro e escorrego.

A ideia de que eu estava vendo o castelo de Hamlet fez com que eu sentisse um arrepio nas costas. […]apenas o castelo naquele cenário, pensar apenas nas distâncias enormes que existiam naquela época, no pouco espaço que as pessoas ocupavam no mundo, nos grandes vazios que havia entre elas, para então olhar em direção ao castelo, onde o filho do rei, arruinado pelo desespero causado pela morte do pai, muito provavelmente morto pelo tio, talvez estivesse deitado com olhar fixo no teto, atormentado pela enorme ausência de sentido que havia se interposto entre ele e todas as coisas. […] embriagados de luz e tédio” (p17) Karl Ove Knausgard O FIM

A minha fragilidade. Esqueço que a perna dói, esqueço amanhã, e ontem, e vou construir a minha muralha, entrar onde me sinto bem, e seguir tropeçando. Festejo a chuva que refresca o dia. E agradeço a noite. O tempo e os óculos! Estou feliz. Um pouco envergonhada de dizer, mas digo, estou feliz! Elizabeth M. B. Mattos – março de 2022 – Torres