Domingo – 25 de junho de 2023 – Torres. Calor, calor, calor, um vento morno neste inverno. Incrível variante: o tempo parece um romance explosivo / intenso! Incontrolável! Um dia, num repente esquisito, acordo desapaixonada: terminou. Soluços.
Notas e pausas, lembranças como fiapos.
Não esquecer as plantas / molhar.
Alexandre Soljenitzine / Arrancada do Rio de Janeiro, obrigada a encarar o Rio Grande do Sul, acolhida por amigos, Raul me apresentou o Gianfanco, e este me emprestou o livro Pavilhão de Cancerosos. Enquanto a obra do apartamento da rua Garibaldi terminava fui lendo dentro daquele verão, as crianças ficaram com o pai, tudo foi deixado para trás, um corte. Uma obediência cega que adquiri no tempo do colégio das freiras. Terminados estes preparativos eu recomeçaria a ser gaúcha. Abandonei meu trabalho no Colégio da Providência / deixei um amor amado inesperadamente / e me despedi da rua Viúva Lacerda assim, como uma fugitiva. Aliás, minha vida não tem lógica, plano, linha de conduta, se deu certo foi porque eu era de natureza certa, se explica assim? Tudo foi muito ao acaso. A infância às voltas com a tia Mariazinha e o tio Telmo, a menina depois virou sombra da Tia Joana / por um acaso foi estudar aqui, ali. De repente, acolhida pelas Madres no internato… Um porto, o barquinho sairia de alto-mar, e, atracaria. Aventais engomados, uniforme, fitas, lençóis e regras, jardim e dias previsíveis. O equilíbrio.
Leituras, leituras, diários, leituras e amigos. Domingos festivos. Leituras obrigatórias. Um livro por semana, o mínimo, mais livros mais fichas. E, agarra esta nota. A ficção cresce como massa de bolo, quieta… Vai assumindo posição ativa e se firma. Mas, nada me fez uma boa aluna.
Pequenos pensamentos aumentam e se desenvolvem ao/do impacto / efeito da natureza no corpo, o calor, o frio, o vento explodem dentro e assumo posições.
Alguém na sala de aula disse que eu estava amarela, e estava mesmo com hepatite. Precisei ir para casa / repouso, repouso, emagreci. O baile seria em julho, ou foi junho. Estaria eu boa?! Os acasos, eu fui ao baile.
Alguns sentimentos imobilizam, saem a me atropelar, decidem antes que eu possa reconsiderar. A beleza liberta e salva / um escudo de amor, suponho, pode ser o veneno, mas pode ser apenas mel. Ah! Boas e festejadas lembranças me afagam, acariciam. Outras apertam, assustadoras e assombrosas, tão desagradáveis!
Sentimentos opostos que se agarram a mesma pessoa / contraditórios. Sonhos intensos / campo aberto, florido, tépido e fantástico mundo onírico. Uma mistura de hoje e ‘pensação’ e amanhã projetado…esquisitices, eu querendo me hospedar no colégio, e a bolsa, uma desordem de papéis / coisas / uma tal confusão sem chaves, mas o bom humor daquela sensação ao, liberta. De verdade, o livro está preso / amarrado na hora… Se esconde / se manifesta na ocasião / no minuto do momento encanto do dia. Não é determinado livro, não sou eu, nem a voz da leitura, mas a magia. Tem um piano que não aprendi a tocar, um violão escondido, e ficou o ferro de passar, e um prazer esquisito que se mistura com o cheiro da roupa limpa… e escondidas esquisitices. Elizabeth M. B. Mattos – junho de 2023 – Torres


Com a Ana Maria no colo 1968 – e depois, os três – Pedro e Joana – 1970 e 1972. Estupidamente jovem, jovem. Tivemos filhos cedo demais. Hoje parece inconcebível, a vida acelerada… Tanto a ser feito no vagar… Com alegria de fazer. Que tempos! De repente fiquei chocada.