inverso e… tenso, depois manso
encontrei as palavras:
“Com certeza o que existe de melhor na vida é o movimento, porque caminhando com uma velocidade igual à do tempo, no-lo faz esquecer. Um comboio em marcha é uma máquina de devorar instantes – por isso a coisa mais bela que os homens inventaram.
Viajar é viver o movimento. Mas, ao cabo de pouco viajarmos, a mesma sensação da monotonia terrestre nos assalta, bocejantemente nos assalta. Por toda a banda o mesmo cenário, os mesmos acessórios: montanhas ou planícies, mares ou pradarias e florestas – as mesmas cores: azul, verde e sépia – e, nas regiões polares, a brancura cegante, ilimitada expressão-última da monotonia. Eu tive um amigo que se suicidou por lhe ser impossível conhecer outras cores, outras paisagens, além das que existem. E eu, no seu caso teria feito o mesmo.
Sorri, ironicamente observando:
- Não o fez contudo…
- Ah!, mas por quem me toma?…Eu conheço outras cores, conheço outros panoramas. Eu conheço o que quero! Eu tenho o que quero.
Fulguravam-lhe os estranhos olhos azuis; chegou-se mais para mim e gritou:
- Eu não sou como os outros. Eu sou feliz, entenda bem, sou feliz!”(p.152) Mário de Sá-Carneiro Antologia – Organização, apresentação e ensaios de Cleonice Berardelli – Rio de Janeiro 2015


