encontro de amor mal aproveitado

“Só eu saberei se foi a falha necessária. Levantei-me enfim da mesa do café, essa mulher. Não ter naquele dia nenhuma empregada, iria me dar o tipo de atividade que que eu queria: o de arrumar. Sempre gostei de arrumar. Suponho que esta seja minha única vocação verdadeira. Ordenando as coisas, eu crio e entendo ao mesmo tempo. Mas tendo aos poucos, por meio de dinheiro, razoavelmente bem investido, enriquecido o suficiente, isso impediu-me de usar essa minha vocação: não pertencesse eu por dinheiro e por cultura à classe a que pertenço, e teria normalmente tido o emprego de arrumadeira numa grande casa de ricos, onde há muito o que arrumar. Arrumar é achar a melhor forma. Tivesse eu sido empregada-arrumadeira e nem teria precisado do amadorismo da escultura; se com as minhas mãos eu tivesse podido largamente arrumar. Arrumar a foma. O prazer sempre interdito de arrumar uma casa me era tão grande que, ainda quando sentada à mesa eu já começara a ter prazer no mero planejar… Olhara o apartamento, por onde começar?” (33) Clarice Lispector A PAIXÃO SEGUNDO G.H.

Livro lido muitas muitas muitas vezes, assimilado -, descobri Lispector quando trabalhei na TV Globo com Célia Ribeiro e era responsável por uma pequena coluna de livros. Encontros de amor prematuros e intensos são tatuagens…

Eu mergulhei nos livros / obra de Clarice! Mais tarde, eu a entrevistei. Elizabeth M.B. Mattos – julho de 2023 – Torres

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