Francisco Antônio Maria Jorge Alberto Pedro José Leôncio

Sempre que encontro o livro na estante, lembro de ti. Memórias visuais, costuradas pelas leituras… Quando estiveste hospedado em Torres, depois da nossa ida a França. Leste, lá em casa, naquelas semanas de mar na rua José Picoral A flor da Inglaterra de George Orwell. E com ênfase sublinhaste que eu gostaria da leitura. Estavas ainda hóspede, ou em Bagé. Ou foi quando terminaste de escrever teu livro (que nunca me deste para ler)? Sem precisão. Talvez a bebericar um uísque, fim de tarde, na galeria quando as leituras iluminavam os quadros. Em várias ocasiões mencionaste o livro. Não este volume que tenho nas mãos. Este novo, sem riscos, sem meu nome, edição recente, editora Companhia das Letras, devo ter encomendado para resgatar as conversas e adivinhar o ‘vais gostar de ler’. A curiosidade de saber /adivinhar o que o outro pensa ou adivinha… A ideia de compartilhar o gostar. Exatamente qual volume, qual livro esteve nas tuas mãos? Deves tê-lo guardado. Em qual estante? Memória…memória, ou vivência, ou estar perto… Conversas inacabadas aconteciam em jantares, vernissages, naqueles churrascos de boa carne na tua casa, retomamos o assunto, “se leres, vais gostar”. Deveria ter te perguntado o porquê. Eu, escorregadia, sem perguntas diretas, escorregava numa libidinosa história, e me escondia no medo, no envolvimento labiríntico da intimidade… Bem! Que bobagem colorida!

Estou a te escrever porque comecei a ler o livro. Vou ler. Estou gostando. Estás comigo a rir e satisfeito porque estou lendo. Se ainda lembrares o motivo / tua lembrança diz / conta desta certeza afirmada. Saudades tuas. Oxalá escrevas. Um beijo. Vou ler e pensar em ti, pensar no que possivelmente você pensou. Elizabeth M. B. Mattos – setembro de 2023 – Torres

Deixe um comentário