“Em minha experiência de vida geralmente parece funcionar uma espécie de código. Como um corredor de espelhos, uma imagem única é refletida várias vezes, até uma profundidade infinita. Coisas que havia visto no passado achavam-se nitidamente refletidas naquelas que eu encontrava pela primeira vez, e sentia estar sendo guiado por tais semelhanças para os recessos interiores do corredor, para algum inimaginável aposento interior. Não é de repente que colidimos com nosso destino.” (p. 147) Yukio Mishima O Templo do Pavilhão Dourado
Uma certa vida paralela que está / ou já é tecida por um elemento aleatório a nossa vontade, mas desenhado anteriormente. Qualquer coisa que move a pessoa. Aquele irmão que traiu um irmão uma vez, num acidente doméstico, numa fala inapropriada, ou com a namorada / com a ideia brincalhona de tirar vantagem, se repete, se repete indefinidamente, inconscientemente, ou consciente… É mais forte a concorrência do que a vontade. Disputar um lugar, ter o que o outro tem. E se prestamos atenção a estes desvios como rotas, caminhos, posso curar / acertar na imagem, no defeito ou na qualidade. O “corredor de espelhos” que Mishima descreve são / ou podem ser / esta visão obsessiva, este sentimento desviado. Antecipação do que virá, aquela ‘coisa’ que nos persegue. O ciúme doente, o desejo doente, a inveja… Os pecados capitais que rondam. Aquele amor de amar quem não nos ama, ou nos submeter… Esquisitices de ser gente. Elizabeth M. B. Mattos – outubro de 2023 – Torres – viagem da leitura lenta e misturada, dos meus autores preferidos –
A gente, tantas vezes, não se sente íntimo de si mesmo, a cada tropeço uma descoberta encabulada da verdade. Mais confesso, mais escondo..
“Eu não me sentia íntimo de coisa alguma no mundo, exceto o Templo Dourado, não tinha intimidade nem com meu passado.” (p.147)