Cartas são fatias. Talvez as melhores do bolo, e lambuzam a verdade.
Fechei as cartas, e abri uma página. Aquela louca vontade de seguir escrevendo, aquela loucura de buscar a interlocução e remexer a vida do outro, ou pensar que se apaixonar é empurrar um gosto ou decifrar o enigma. Depois, esquecer. Os amores amados são para ser esquecidos. Servem a vida, são como galhos, flores e frutos, às vezes não tem folhas, mas o tronco está lá. Uma árvore espetada num canto. Ah! Pode ter um gramado, uma cerca… Pode ter uma casa por perto, embora não se conheça todos os cantos. Para nós dois seria preciso fechar todas as portas, janelas e nos certificar que estamos absolutamente sozinhos. Nos certificar. Temos a ilusão de estar sempre em família, vigiados ou acabrunhados pelas mentiras sucessivas, invasões, mas juntos, em família. É muito estranho como tentamos policiar a vida, a inteligência. Nós nos vendemos barato. Aliás, temos a ganância de ter tudo, alcançar tudo, mas as asas limitadas não nos deixam ser gavião. Alegres passarinhos… Tudo limitado. Esta coisa sem graça das regras das obediências e dos desencontros. Queimar e apagar todas as cartas. Não deixar vestígios. Como se os nossos vestígios fossem modificar o mundo! Não. Nem a nós mesmos. Aos poucos necessitamos de ajustes e um alguém que nos cuide. E nos cuide ternamente / com ternura. Então eu te mando mais um bilhete escondido. Hoje vou tentar escrever com vontade. O exercício / o rascunho está feito. Um dia eu acerto. Outro beijo. Hoje já te mandei muitos beijos. Mas só envelheci, não rejuvenesci como promete o amor. Palavrinha desgastada esta. Mas acho que a amizade ainda pode se fortalecer, um cálice de vinho: Papa Figos / do Douro, pode ser a safra de 2019 / tinto. E um arroz bem feito, caprichado, uma salada fresca, ainda laranjas e bergamotas, ou figos… A boa refeição do /com bom rosbife coberto com cebolas. (risos) Estou com fome. Vou tratar de resolver isso. Ah! Comeria batatas fritas! Credo! O vinho é da casa Ferreirinha / mãos dadas com Portugal. Elizabeth M. B. Mattos – outubro (terminando, já calor) 2023 – Torres (ainda)

Pedro Moog / foto

Papa Figos

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