cheiro das frutas e a vontade se misturam,
e o gosto deste dia que chove sem chover, intenso

“- Eu tinha feito todos os preparativos e estava a um passo de agir – murmurei comigo mesmo. – Tendo fantasiado esse ato tão concretamente, tendo vivido essa fantasia tão completamente, será que é mesmo necessário executá-lo? Nesse estágio isso não seria inútil? Kashiwagi talvez estivesse certo ao dizer que o que muda o mundo não é a ação, mas o saber. E há também o tipo de conhecimento que tenta copiar a ação até o limite máximo. Meu conhecimento é assim. E é esse tipo de saber que invalida a ação. Então a razão de todos os meus cuidadosos preparativos está na constatação posterior de que eu não teria que agir a sério?
— Sim, é isto. A ação é agora simplesmente uma espécie de coisa supérflua. Ela saltou para fora da vida, para fora da minha própria vontade, e agora se posta a minha frente, como um mecanismo de aço frio esperando ser colocado em movimento. Como se não houvesse a menor ligação entre meu ato e eu. Até agora tem sido eu, de agora em diante não é mais. Como posso ousar deixar de ser eu mesmo?”(p.237-238) Yukio Mishima O Templo do Pavilhão Dourado

poeira de frutas douradas
poeira dos olhos
sempre