olhos azuis

Os olhos azuis não eram teus, o gosto do mimo não tinha nada com aquela situação de emergência. Tua corrida, teu zelo, não explica a morte, porque ele, o pintor, nem era teu amigo. A comédia da substituição… Farsa da notícia. A narrativa que se explica, ou nunca se esclarece. Os dados não são precisos porque a vida é mesmo assim, imprecisa e inconclusa. E tinhas uma linha, um determinado e preciso foco: serei / sendo herói. E a história, a nossa, alinhavamos… Com certeza, somos os heróis a farejar o possível do heroísmo, e chegamos ao impossível. Quanto equívoco se torna a verdade: foi amor, foi paixão, foi despedida, foi espera, e foi tão pouco…

O equívoco foi meu, a raiva é minha, a estória se tornou história, a minha, eu não sabia nada de nada. Rastejei na tua luz, vês?! Tinhas luz própria sim. Não precisavas da notícia, eras a notícia. Ah! Como esta memória me persegue! Por isso foste a Torres e levantaste minha vontade a uma potência de desafio. E escreveste minha estória de princesa -, estavas a fazer sessenta anos e eu… Treze anos, ou doze anos mais nova, menina brincando de bonecas na minha fantasia de sobreviver. Não. Não éramos adolescentes. O barulho do momento, meu fraquejar, ou fortaleza, sei lá! Pensei ser a Cinderela calçando o sapato de cristal definitivo. Tu eras / foste/ és o meu sapato de cristal. Desculpa, eras o meu Príncipe. E eu reclamo o direito de ser Princesa até hoje. Aonde estás? Elizabeth M. B. Mattos – novembro de 2023 – Torres

Nota no livro de Yasunari Kawabata O Som da Montanha:

Comemoração dos sessenta anos de vida, baseada na astrologia chinesa. O cruzamento do ciclo de doze anos do horóscopo com o ciclo de dez valores numéricos resulta em sessenta diferentes combinações. Considerando-se que completar sessenta anos representa o renascimento da pessoa.

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