O grande desgosto ocupa o palco e arruma jeito / forma de estar na plateia, ou seja, se transforma na maior evidência e se consome, e me consome… Não se fala/pensa ou diz alguma coisa, pensa noutra coisa, apenas no desastre.
Amanheço pesada, atrapalhada, cinzenta. A chuva forte , o vento, a presença imposta, exige. Não posso resolver mais nada. Faço panquecas. Dobro a dose do café. Repasso as frutas. Escuto o mesmo disco, uma três vezes, não ligo a televisão. Respondo os recados no celular, e desligo conexões. Definitivos, os aborrecimentos. Eu não permito que cheguem à janela. Estão todos de castigo, abafados no quarto menor, no escuro. Eu me ponho também no castigo: intratável, apenas gulosa. Que ganhe dois quilos, não me importo, quem sabe quatro quilos? É um sentir em que o tato e todos os sentidos se reviram. Duas latas de leite consensado. Com três fazemos um banquete. Como é difícil brincar com a dor, abraçar a tristeza, sentir alguma coisa. Confesso que o pior desastre ainda é a completa indiferença, começar, aos poucos a desaparecer, diminuir, não comer, não falar, não fazer. O pior é quando o sono se deita na cama antes da pessoa, e não levanta. Paro de respirar. A chuva diminuiu. Elizabeth M.B. Mattos – janeiro de 2024 – Torres