Necessidade de estar só, de não ouvir ninguém pedindo nada, que não me levem junto… Esse horror de que tenham o mínimo direito sobre eu pessoa, de que me façam sentir isso… Essa evidente falta de jeito dos outros, de esperar alguma coisa. Eu me torno logo incapaz, eu me anulo: resolvo fazer o que não tenho vontade. Escrever pode ser um caminho seguro. Não sei. Desconfio.
Jardim com crisântemos, íris e pessegueiros floridos… Atravesso pelo caminho de pedras. Pedras escolhidas, eu posso dizer seixos? Não sei. Cabelos espichados, sem movimento, como chorosas lágrimas escorridas na cabeça. Pele escura. Olhar sombrio e castanho. A voz caminha pelas escadas do segundo andar.
Não gosto de ser vigilante, atenta, acompanhar o dia e a noite, insone. Quero o sono de todas as horas, aquele que sonha. No entanto, o jardim, a terra coberta de pedras encanta. Árvores se movimentam dentro da história colorida. Ou seria a cor do pincel? Troncos finos, outros maduros e grossos. Na tela estes espichados senhores do tempo, os trocos. Não. As palavras não conseguem entender a visão, nem explicar o som do dia, súbito, a vontade de voltar a dormir. Esta coisa de usar o sono como borracha, goma de esquecer. Questiono os detalhes. Tenho a certeza que no detalhe traiçoeiro se esconde o principal. A porta bateu, ou fechou bem devagar? Eles não queriam que eu acordasse, ou não iam me convidar para passear. Foram todos para o jardim no momento em que entrei correndo na sala cheia de novidades! Levaram os cães… Ou apenas as vozes. Quero olhos azuis, cabelo aloirado crespo, colorido e em movimento. Quero ser a outra, e ter voz mansa, fala arrastada (sensual), reticente. Estou cansada da leitura: arrastada, incompreensiva porque repetitiva. Será que todos pensam a mesma coisa numa variante de dia e noite e idioma, o mesmo. É deste mesmo escorregadio que eu me escondo: escondida, revelo. Todas as cores numa cor. Nenhuma cor: todas. Elizabeth M. B. Mattos – janeiro de 2024 – Torres