
Foto clássica: Pedro Moog
Pitangueira florida / exuberante. Outra triste… Um verão quente entre ensolarado e sombrio, mas quente. E os dias se empurram, ou se aquietam na esquisitice do dito temperamento… O que devo entender?
Recebi notícias tuas depois de bom silêncio, ou de pausa necessária, ou sei lá, algum motivo que não explica o sentimento, nem justificativa o espanto, nem o calor. Estes acidentes internos emocionais, suponho (não teus, mas meus) descrevem o envelhecimento, a rabugice e neurastenia do tempo de aceitar, escutar, silenciar e entender… E nunca esquecer. Entender exatamente o quê não sei explicar, então, não escrevo… Nem espero. O que acontece do outro lado importa, mas o fuxico do tempo por aqui atrapalha leitura, escrita, e… Pensar em ti, ou em mim, ou pensar na imaginação. Conversa com a paciência, o tempo. Interrompe a vida.
Estou sempre pensando que a pontuação é longa, chata, explicativa e destemperada. De repente (coisa de minuto, de agora) a realidade, o fato, ou a lógica com acento de preponderância… O que será que eu quero dizer com isso? Sou assim, enroscada em explicações esquisitas… O sentimento brota como erva daninha e ‘se agarra’ pra esconder ou pra ser arrancado… Podar, ou florear: um fato / um espanto preciso explode: medo. Ando com medo do passo seguinte, de dobrar a esquina, de falar o que não devo ou calar o que importa, usar os pincéis errados e as tintas sem misturas. Esquecer o importante. Estas coisas de amor e sentimento preguiçoso complica, ou reduz tanto o que importa quanto agiganta… Preguiça e urgência. As pessoas atendem / escutam as vozes próximas, tropeçam nos próprios sustos, e se alegram com margaridas, surpreendentemente. As flores que escolheste chegaram ontem com tua carta, bem como seria há vinte anos passados, atrás… Esconderam teus beijos, tua saudade, mas expuseram / escancararam / esbanjam / evidenciam o desejo, a volúpia de ser, por um momento, apenas tu e eu, curados da curiosidade amorosa, sem desafios e entregues a curiosidade do olhar desnudo. Afinal, viver é assim mesmo, surpreender. Se nos é dada a chance de sobreviver ao susto da paixão e mergulhar no real, por que não aceitar? Eu aceito. Tu brindas / ou brincas, e, por duas horas esquecemos as bordas lógicas da vida. Por que respiramos? Um beijo. Elizabeth M.B. Mattos – fevereiro de 2024 – Torres
