Pessoa, um amontoado de energia. O movimento, único e misturado: conjunto, atrapalhado. Escolher / definir complica tudo: quero tudo, quero mais, e de repente, nada. Vai entender! Vontade de voltar a te ver e a conversar. Faço estas reviravoltas no tempo para te reencontrar azul. Magro, agitado, intenso e atrapalhado. Fico a desejar tua aprovação, teus certeiros acertos nas estantes. Tuas surpresas e teus lânguidos encantamentos. Impressiona que passados tantos anos, vinte ou trinta, pensar em ti seja o estímulo para fazer e estar viva. o que fiz depois tem o teu carimbo. Da quieta e gulosa, grande apreciadora de bolachas, eu me fiz atenta, professora, e decidida. Se posso te contar o que sempre intuíste, viraste as costas, e a prateleira ficou cheia de pacotes daquelas recheadas tentações. Posso negar. Posso me fazer de apaixonada, posso abrir janelas e voltar ao banho de mar, posso escutar as canções francesas e posso ter um cachorro enroscado nas minhas saias, não, não faria nada disso se… Vergonha de confessar?, não, orgulho de ter vivido cada pedacinho daquela história que desenhou a Beth que eu sou, deu colorido, e ensinou a pensar, a ter voz… Tem coisas que sou e sou e sou, leitora, a senhora dos livros empilhados, das estantes abarrotadas, das leituras desordenadas e da preguiça. Esta era e segue sendo. Amiga de Iberê, bom olhar para a pintura, social e alegre. Professora. Não no sentido de conhecimentos e filosofias, mas a intermediação entre o gosto de apreender e a discussão dos não sei atrelados ao posso saber… Sigo não gostando dos aeroportos como tu gostas (vivias numa mala, indo e vindo), nem gosto de ir ali e aqui, bordejar. Estico a compreensão aos que gostam de colecionar cartões postais, fotos e descobertas. Credo! Emburrada pessoa que não quer o novo! Burramente atolado nas linhas. Canhota. Sonhos amarrados… Presos em certezas adolescentes. Palavra boa a que usamos para definir este brilho: adolescência. Ah! Pois é magro, acordei azul, querendo azul, saudosa de azul. Sem vergonha, sem vergonha de sentir, e sem vergonha do danado desejo em idade tão avançada! Um beijo. Elizabeth M.B. Mattos – fevereiro de 2024 – Torres.

P.S. Saudade do meu amigo Danúbio Gonçalves – ia me visitar, olhávamos o mar ali do segundo andar, e ele insistia em criticar a minha ‘mesmice’ no tema meloso e arrastado: falta de atitude. Eu fazia a limonada, e, teimosa, resista a qualquer desvio… Hoje resisto aos novos amigos, ao sonoro e festivo movimento das visitas, e tenho mais preguiça do que antes. A sala de aula, no meu caso (manhã tarde e noite) energiza, polariza, mas depois vem um cansaço sem vergonha. Mas queria tudo de novo, tudo outra vez, eu nasci para a sala de aula… Sou aluna todos os dias, eu gosto de dividir as beiradas das descobertas. E queria o amor todos os dias. Eu me enrolei nos amados amores até ser sacudida pela morte do Gustavo! Foi tão cruel aquilo! Meu querido, nós ainda estamos vivos. Estaremos sempre? Não é?
