Contar / dizer, de alguma forma, a verdade daquele momento, daquele momento que foi o teu passado / resgatar, parece impossível. Resvala, escorrega, derrapa nas inconsistências… Toco no proibido, transformo em árvores natalina o possível. Nada é verdade. Estou a descascar uma possibilidade possível: infelicidade coroada. Quando, quando eu posso me nomear feliz? Se entendo de liberdade, de ir e vir, sem comandos, sem esquerda ou direta, ou ladeira, sem lago nem piscina, sem aperto e abraço e carícia esquisita… Sim, lá está um paraíso vislumbrado, mas… inominável, tudo seria galopar aqui e ali.
Urbana, reclusa, e alegre. As esquisitices empacotei na alegria das bonecas de papel, nas pedras polidas coloridas ( os azulejos das reformas ) eram transformados em reis e rainhas. Aquela flor “boca de leão” brincava. Fazê-la falar, reviver depois de colhida (coitada!), ficava nas caixas de sapato com janelas e portas… mansões. Os gramados eram as florestas, as formigas, os monstros, dia com inverno e verão, ventanias imaginadas, e chuva de mangueira. Assim as memórias se enfeiram na narrativa da criança, do jovem, do jovem adulto, e do velho. A realidade ela mesma é impossível, está sempre paramentada. O gosto do teu abraço se desfaz na possibilidade daquele abraço perfeito. Como poderemos ajustar? Criar um departamento de vigilância. Alguém julgará a verdade da mentira. Haverá punição. Vamos recolher aquele livro, retirar o vídeo da televisão, calar o jornalista, multar a emissora.
O tempo que morei na fazenda, parcos cinco ou seis anos, registram o melhor período das crianças e dos cavalos, das ovelhas, dos gansos e dos cães. Com luz elétrica e telefonia, sem luz, sem telefone. Com açudes abastecendo, com água faltando e sol queimando a plantação. Segui acordando na madrugada, enfileirei as crianças e as escolas estaduais e particulares (eram tantos!) recebiam a tropa… ah! Saudosa Santa Cruz do Sul que agora (estranhamente) proíbe leituras / recolhe livros distribuídos, vai pro palco num arremedo de censura, uauuuuu! Não pode ser verdade que eu não posso andar sem calcinhas por aí, ou que preciso de maiô para tomar banho na minha piscina particular?Ufa! estou cansada! Até de dizer a verdade! Elizabeth M. B. Mattos- março de 2024 – Torres












Lindo texto! Lindas fotos! Grande verdade: “ O gosto do teu abraço se desfaz na possibilidade daquele abraço perfeito”.
Que alegria te encontrar aqui! Obrigada! Cada palavra tua se ajusta bem no gosto da minha felicidade, prazer. Obrigada!