Até ficaram doentes, mas morreram, os dois, no mesmo ano, três meses de diferença, ou três anos?! (As mortes se misturam nas perdas). Um galope esta vida (nem nos damos conta / estavas ali, ao meu lado, eu nem percebi). Mistério do tempo. O pai, bem, o pai -, filho único, – o pai chorou bastante, o suficiente. Depois casou -, casou pra agarrar o que chamou de vida, agarrou outro jeito de viver, outro jeito de viver a tal solidão… Aquela mesma que tu, eu, todos nós fugimos. Agarrou outro jeito de viver, um jeito de sair de casa. Dá um enorme e custoso trabalho sair da infância, da casa paterna. Largar as crianças que somos. Perdas. Perdas evidentes que sacodem… Coisas de amor que chegam, coisas de amor que desaparecem. Perdas evidentes. Duras como pedras. Quando os intervalos são curtos, e a guerra segue, fica-se na batalha! Estamos com espingardas nas mãos, na luta, sem entender muito bem o que acontece. Estes espaços tão curtos adoecem a gente por dentro. Despedaçamos por dentro: isso é o tal amor que sentíamos… Despedaçados tanto e tanto, quase vamos juntos no desespero sem lágrima, desespero valente, corajoso, seco. E vamos assustados, ou vamos a correr a procurar margaridas… Vamos a correr para o outro lado. Qual lado? A sofrência / essa dor não se explica, dói. Explode. Como as bombas em campo minado, era campo com margaridas, mas explode. E o medo se planta, brota no nosso coração. Sofrer não se explica. Elizabeth M. B. Mattos – maio de 2024 – Torres com bastante chuva.
