Carlos Lacerda

Estou escrevendo sobre meus joelhos na cama, pois estou ligeiramente resfriada e resolvi ficar de molho hoje para curar direito, já que estamos na época das chuvas […] Imagino que vocês não esteja acompanhando o noticiário político sul- americano – no máximo, o Péron -, mas será que saiu alguma coisa sobre a revolução silenciosa que tivemos na semana passada? Foi uma revolução antirrevolucionária. A revolução para melhorar, que estávamos esperando, foi sufocada, o que significa que o homem que a instigava, que lutava por ela em seu jornal etc., viu-se imediatamente muito ameaçado e teve sair do país. Primeiro ele fugiu num navio de guerra, depois voltou e foi para a embaixada cubana daqui, e foi de avião para Nova York, onde vai passar uns tempos até as coisas melhorarem para ele. A mulher e os filhos dele vão para lá depois.

Ele se chama Carlos Lacerda. Tem 41 anos, é um homem brilhante, completamente honesto, quer ser “democrático”, sem dúvida: meio católico, mas tal como ocorre com muitos políticos e jornalistas daqui, ao contrário do que se dá nos Estados Unidos, também tem interesses culturais gerais, por pintura, arquitetura (ele também tem uma casinha aqui, perto da nossa, que foi construída pelo mesmo arquiteto que fez a da Lota), jardinagem, culinária, bebidas etc. Recebeu o Prêmio Mary Cabot de jornalismo, dado pela Columbia University, uns dois anos atrás, e é claro que é radicalmente contra a ditadura. (p.426) (Carta A Loren Melver / 20 de novembro de 1955) Elizabeth Bishop – Uma Arte – Cartas de Elizabeth Bishop Editora Companhia das Letras, 1995

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