Meu amigo: eu escrevia sempre e sempre e sempre. Os passarinhos, os verdes, as escolhas. Sobre a paciência, eu escrevia. Olhos lindos da Letícia. Um filho amigo. Uma casa com piscina. Teus livros. Teus escritos importam. A tua doçura. Não. Não a política. Penso tudo pelo viés / a pensar que de mim sempre viram/imaginam o lado certo / e eu, pela vertente atual, errada. O Brasil não nasceu. Eu desisti de tanta alegria miúda, boa e quente!, talvez por serem migalhas ou confetes / sei lá, o sapateado não faz sentido. Conversar importa, concluo para constatar o desastre, esta minha ilha, este cercado voluntário, e os espinhos me incomodam… Não sou mártir / nem tenho rezado. Choramingo, desespero meu amigo. Desculpa a carta. Os motivos são os mesmos, e ao mesmo tempo, são fatos, creio eu, velhice. Acho uma droga envelhecer. Não é a cara enrugando, os braços depenados, ou a falta de cabelos, mas a não perspectiva, a não crença, ou a crença certa: vai terminar. Este sol, esta chuva, o frio, o calor, as árvores cheias de pássaros, o olhar doce da Ônix. O gosto vai terminar. Estou a espernear para que não termine. Antecedo as noites com grandes / majestosas sestas que acordam no meio da noite e eu… E eu me pergunto, por que está noite? Estou sem sono. Claro. Dormi um amontoado de horas erradas / ou certas. O que importa? Importa que não tenho sono e quero o sono, quero a música, quero bolo e café, quero risadas e abraços. Mas não basta querer… Elizabeth M. B. Mattos – julho de 2024 Torres



