Escuro ainda, a passarinhada conversa. O sono caminhou para o bom esconderijo. Resolvi te escrever sem pressa. Amanheço com o amanhecer. Os planos de um recortado verão se desenham, mas sem convicção. O ano se atravessou em surpresas exigentes. Eu me atrapalhei. Ousar e assumir e fazer acontecer o que está ao lado, ao lado, não em ti, parece impossível. Gloria! Há / existem pessoas que trançam, executam e ajudam. Ao se inclinaram, resolvem o desencontro. Invejo. Não é fácil. Idiomas diferentes / escorrego nas semelhanças e diferenças. O pensamento do outro, cravejado de certezas e o meu aos trancos, oscilo. As informações se amontoam grotescamente. O desenho não se define, sempre mais um esboço inseguro… Os lápis macios e a vontade de riscar e riscar o papel se retorce no prazer: cores, linhas, recortes imaginários, mas inseguros. Sou eu isolada no sonho de sonhar e tu, atravessas a música. Tua energia se embala em sons. Aquela alegria de chega pelos ouvidos e transporta o mundo certo e harmônico. O bom caminho da leveza e do embalo. Como eu te compreendo! E tudo amolecido, fluido, fica tão mais fácil. Estás certo. Esta batalha nervosa parece inútil mesmo, tens razão meu querido. Acomodar-se ao mundo louco, desvairado da competição sem ponto de chegada… Circular o mundo. Nada basta. Estão a nos exigir mais e mais e mais e sem respostas. Para agradar o outro, ou chegar dentro de mim? O lobo solitário. Julgado. E de repente ser pessoa é ruim. Não sei. Triste. Inútil. As vitórias ou são retumbantes e ricas, ou vazias. O outro não está satisfeito. Espeta. Julga. Machuca. Afasta. E então, és tu, eu, absolutamente isolados e solitários. O que importa? Eu te amo. Eu te amo e tu me amas. Mas nos sentimos vazios. Qual o caminho? Estender a mão… Amanheceu e a passarinhada começa a riscar o dia com voos. Elizabeth M.B. Mattos – novembro de 2024 – Torres