Justificar, olhar, acompanhar todas as postagens e movimentos significa estar atualizada, mas eu diria, completamente, desligada, perdida da vida ela mesma. Se vou ver/acompanhar todas as postagens. Pensar sobre todas as frases, e filósofos. Entender observações que ali flutuam, esqueço de pensar. Estaciono. E o dia termina numa flutuação indefinida. E me sinto uma idiota. Feia, é claro, desinformada, é claro, fora do mundo, claro, e transparente. Terei eu que fazer as tais chamadas, caprichar nas fotos e transformar meu feijão com arroz em assados e brindes? Que vida ridícula a minha! É o que devo pensar?! Todos, tudo brilha. Os melhores momentos saltam aos meus olhos, os momentos de uma montanha de gente bonita e feliz! Que maravilha! Que vida idiota a minha! É a conclusão? Escolhas erradas, caminho obscuro, sem alegria?! É exatamente esta a conclusão? Não deveria ter escrito um livro, poetado mais vezes. Encontrado o homem perfeito. Estourado champagne e festejado meus cursos e doutorados, o meu emprego maravilha!? Céus! Como estou atrasada! E o Instagram segue a me monitorar / eu filmo momentos / notícias / e especiais chamadas para dizer: eu existo, como é pouco! Estou aqui entre vocês! Mais linda do que nunca! E o ciclone bala nem sacudiu meus cabelos, nem alterou minha sólida e inconfundível beleza. Preciso esclarecer ao Instagram… Sou um brilho esquecido! É isso? E ficar mesmo, horas, horas a detectar este mundo que conversa ao mesmo tempo… Um mundo idealizado e colhido de melhores momentos e de beleza especial: fotos únicas. E eu? Quem sou? Uma vírgula sem texto. Elizabeth M. B. Mattos – dezembro de 2024 – Torres

