A vontade picotada, uma surpresa boa. Pera flambada, alegria descompromissada. A boa comida e a fidelidade. Felicidade certa. Fico a pensar que toda a certeza certa transborda. Coisas de boa memória. Se inventada ou real, alimenta. Pequenas descobertas: copos de vidro pintados à mão, delicadeza nunca esquecida. Assim entrei na vida carioca: saltitante, confiante. Embora minha juventude causasse certo estranhamento. E todas as certezas ficaram à descoberto, expostas. Temerária eu fui. A lua perto do Cristo Redentor, o sol quente entrando naquelas tardes ferventes. Para tudo a solução da juventude, uma certa aceitação natural, então felicidade. Não fiz escolha, fui fisgada, em todas as ocasiões fisgada. Sair parecia sempre mais fácil. Entrava, caia e depois conseguia sair… Recomeçar. Acho que não há tempo, idade para recomeçar. Sair pode ser o mais difícil porque exige a disposição de abrir a porta, fechar e sentir o temporal do jardim, do mar, das ruas alagadas. Uma aventura. Aventuras nas telas de cinema, na televisão, na vida real, medo. E a gente foge do medo. Olhar nos olhos do medo, um desafio. A gravidez é uma destas felicidades cegas. Um estranhamento. A paternidade, um susto! Escrever um livro, pintar um quadro, esculpir o sentimento. Tão difícil! As cores nos confundem, as linhas atrapalham… O que nos salva e define? O sentimento. O sentimento sentido, vivido. doído. Então eu vivo! Não é surpreendente? Elizabeth M. B. Mattos – dezembro de 2024 – Torres
Dezembro majestoso, não quente / os dias se fecham para este ano estranhado por espantos. Tão surpresa, tão manso! Preciso ver o mar, outra vez o salgado das águas. Desatrelar o atropelo deste desejo engasgado de ser feliz. Preciso apenas existir na tua memória como tu existes na minha. Boa memória flambada de amor. O nosso.