caça as bruxas

quem são as bruxas? aonde o feitiço? como dançamos o som destes tambores? o começo e o fim, aonde o meio?

de vez em quando esquecemos de ver e ouvir, e não conseguimos falar. mas exatamente nesses minutos, por instantes recuperamos a lucidez.

e penso que minha lucidez, minha atenção, meu tempo começa a se esticar desnorteado. corro para os livros e volto, imediatamente, para as citações que me fazem refletir, respirar e voltar:

“Durante esses dias estive particularmente inquieto. Ora me sentava um pouco, ora andava de um lado para outro pela casa. Era como um sofrimento, mas antes se deveria chamar doçura do que sofrimento, pois não havia aborrecimento naquilo, mas uma sensação singular e muito sobrenatural de bem-estar. Eu superava todas as minhas capacidades, chegando à obscura força. Então escutei sem som, vi sem luz. E meu coração se tornou algo sem fundo, meu espírito informe, minha natureza insubstancial.

Os dois acharam aquelas palavras semelhantes à inquietação que os impelia pela casa e pelo jardim, e Ágata ficou surpreendida por também os santos chamarem seu coração de algo sem fundo, e seu espírito de informe; mas Ulrich logo pareceu retomar sua ironia costumeira.

Os santos dizem: um dia estive encerrado e então fui arrancado de mim e mergulhado em Deus sem saber.” (p.534-535) Robert Musil O Homem sem Qualidades

assim tomo emprestado um texto, um momento, sigo, eu também, uma voz e recomeço a jornada que me encanta por conta das margaridas, do excesso de luz, e excesso de vento, e excesso de mar, e excesso de beleza… e dou a minha mão… Elizabeth M. B. Mattos – dezembro de 2024 – Torres

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