Voaria se pudesse

Se eu pudesse, verdadeiramente, me libertar do medo eu voaria. Não como Ícaro, acreditando em asas… Eu voaria pelos sentimentos, atravessaria os beijos e os abraços. Seria Eu na minha máxima potencialidade. Talvez, de volta a rua Vitor Hugo, 229 – e o gramado, jacarandás e ciprestes devolveriam minha alegria. Todos nós reunidos, meninas e meninos preocupados em dançar e flertar. Das memórias a vida real. Ontem imaginei que poderia voltar para casa, o apartamento da Avenida Independência e recriar o que chamaria minha vida, meu espaço. Ainda sinto uma dor enorme por ter perdido a minha peludinha Ônix como um aperto de culpa, de negligência, inconveniência da minha parte. EU responsável, ela tirana, mas dependente. Outra vez culpa e castigo como a literatura tantas vezes explicita. A vida contada como deve ser, em detalhes ou sopros, nunca real. Escrever tem este alívio, exala a particularidade da vida, ao mesmo tempo toda a artificialidade do esforço. Viver deveria ser natural. O bebê grita, e estranha. O útero, o conforto e o abrigo certo… Não podemos voltar. É preciso enfrentar. Cultivar a vida, ou o jardim importa. Sozinhos ou acompanhados. Os sons, as vozes, o movimento das calçadas, as bicicletas. Árvores. Pássaros e a água importam. Como seria entre quatro paredes com o vislumbre do céu, sem céu.

Lavar a roupa. Pendurar a roupa. Estar Em Paris, na Normandia, a França, o francês. As janelas. O entusiasmo. Sim, tens razão, viver é apenas um punhado de entusiasmo necessário, e saúde. Escuto o piano – a música responde. Elizabeth M. B. Mattos – janeiro de 2025 – Torres entre nublado e sol, sem chuva, sem calor, apenas o silêncio da Lagoa do Violão.

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