HISHAM MATAR

Nascido em 1970, em Nova York, de pais líbios. Viveu em Trípoli e depois no Cairo antes de se mudar para Londres. Com O Retorno venceu o prêmio Pulitzer (tradução Odorico Leal) EditoraÂyiné / 2022 / Hisham Matar 2016

(p.57) O país que separa pais e filhos desorientou muitos viajantes. É fácil se perder aqui. Telêmaco, Edgar, Hamlet e inúmeros outros filhos, seus dramas particulares demoram-se nas horas silenciosas, navegaram tão longamente para a distância incerta entre passado e presente que parecem flutuar à deriva. São homens, como todos os homens, que vieram ao mundo por meio de outro homem, um fiador que, com sorte, abre o porão da forma mais gentil, talvez com um sorriso reconfortante e um tapinha encorajador no ombro. E os pais devem saber, tendo sido filhos, que a presença fantasmagórica de sua mão permanecerá ao longo dos anos, até o fim dos tempos, e não importa que peso seja posto sobre aquele ombro ou o número de beijos que uma amante plante ali, talvez levada deliberadamente pelo desejo secreto de extinguir o domínio do outro, o ombro permanecerá eternamente fiel, lembrando a mão do bom homem que o acolheu no mundo. Ser homem é ser parte dessa cadeia de gratidão e memória, de culpa e esquecimento, de entrega e rebeldia, até que o olhar de um filho se torne tão ferido e agudo que, contemplando o passado, ele já não veja nada além de sombras. A cada dia que passa o pai viaja mais para dentro de sua própria noite, aprofunda-se na neblina, deixando para trás vestígios de si e o fato monumental, embora óbvio, a um só tempo frustrante e piedoso – pois como o filho continuaria vivendo se também não esquecesse – que, não importa o quanto se tente, nunca podemos conhecer nossos pais por completo.” (p.57-58)

Não é uma novidade, também não é o ponto, talvez a reticência entre passado e presente – a reflexão de como e por que tanto e tanto se escreveu / descreveu sobre desesperos / amor / expectativas e frustações que nos arrastam como filhos. Estamos sempre / continuamente atrás da semente, procurando a essência deste motivo _ estamos vivos… Elizabeth M.B. Mattos – janeiro de 2025 – Torres – outra vez mergulhada na leitura.

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