abotoar o luto

O luto é o tempo costurando o rasgo da perda. O que desaparece, a perda, o sentimento dilacerado da dor não se explica na morte ela mesma. Perder alguém amado, perder a casa, o jardim ou o jacarandá da infância, o vestido, o carinho, a luz… Perder é um susto. De repente, completamente nus, expostos. Memória é o requinte da alta costura – da roupa sob medida. O guarda roupa necessário, escolhido, refeito. Renovado. É preciso apreender a se desfazer para organizar o armário, a gaveta. Os afetos precisam ser dedilhados como o som de um piano… Olhar / sentir / a percepção precisa passar por dentro. Amar o sono, o recolhimento e as próprias vontades. É zelar pela própria vida. Reconciliar-se com o gozo. Gosto de botões e abotoar é um bom jeito de enfeitar a vida. Elizabeth M. B. Mattos – janeiro de 2025 – Torres

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