Eu não sei dizer o que pode, poderia, realmente, ajudar. No meio da dor, atordoada pelo medo, quero estender o braço, o socorro. O que faço? Com voz de fantasma repito coisas bizarras: beba um copo de leite, a maçã é uma boa fruta. Agarra um livro. Mesmo que não entendas bem, mesmo sendo aborrecido, segue lendo… Depois anota. Abre aquele caderno, com um lápis / feito desenho escreve. Se nada original ocorre, descreve…., se não te ocorre ainda nada, escreve teu nome. Conta do almoço, do banho quente, ou gelado. Descreve a árvore que vês pela tua janela. Alinha o pensamento ao cotidiano. Deves ter comido tomates, feito um macarrão, cozinhado dois ovos. Ou uvas, ou pêssegos. Milho, quantas espigas de milho tinham ali na cozinha? E nada me ocorre. O que eu falo? Estamos juntos, tardes inteiras a rir bobagens, mas não consigo desenvolver a ideia. Tenho ideias? Ou eu mesma me agarrei na vida porque respirar era / é bom? Tenho dúvidas. Por que este meu otimismo pequeno é couraça? Um jogo do contente de M. Deli ou das Vacas Voadoras de Edy Lima. Em sala de aula eu atuava cheia de vigor. Anotava, e me proponha a explicar, ou eram os alunos que se propunham a ouvir e fazer. Era uma energia emprestada? Eu repito sempre as mesmas coisas. Coisas de beijo, de abraço, de carinho, de representação. Odor. Eu persigo o cheiro da luz, do brilho, da alegria, da risada cantante. Afinal, não faço nada. Sequer escrevo. Eu sonho. Como posso solucionar o problema dizendo: tudo vai ficar melhor, perfeito, sonhe meu querido, deseje forte e a vida se abrirá… Estou mentindo? Não. Eu sinto assim, a vida se abrirá… Elizabeth M. B. Mattos – março de 2025 – Torres