quinze linhas por dia

  1. Quando eu te conheci estava emocionada pelo momento urgente/triste arrasta do coma perda: um amigo se despedia / falávamos emocionados, com cuidado. Eu não resisti aos teus arregalados olhos claros e a tua magreza, nem a tua fala cheia de feitiço. Estellita esperou, deu tempo para conversar… Eras o herói do dia, com uma enorme matéria na Zero Hora a teu respeito. Eu voltaria para Torres no dia seguinte. A universidade me permitia ausência de dois dias. A vida estava estruturada com trabalho e alegria. Projetos estavam sendo realizados.
  2. Ficamos atordoados. Exaustos. E nós nos olhamos. E tu procuravas uma casa em Torres. Seria? Sei lá – foi a conversa e a troca de telefones. Guardei aquele micro / mínimo papel – letra pequena / pequena, mínima.
  3. Coisas de rede. De hora certa no momento certo. Já contei mil vezes esta história, eu e minhas estórias com olhos azuis. E também castanhos. Seriam verdes? Nos olhos / pelos olhos derramo o mel / o fel. Depois nas letras, nas cartas, neste frenético escrever. Que saudade sinto do amor amado, rimado. Contido e represado. Depois cachoeira e corrente: rio leva na corrente, afoga. Não lembro do que foi ruim, talvez o meu ciúmes, tu não tinhas nenhum / eu era tão eu / tão apressada de tanto trabalho de tanto falar, falar. E te escutar. Por que escrevo estas coisas? Por que eu volto. Ainda estás aí perto / agora não mais Buenos Aires. O Décio foi embora, o Iberê se foi. Memória do Esquecimento sucesso. As colunas no Estadão de São Paulo / Zero Hora / mas tínhamos lados diferentes / eu era desligada, ignorante, alienada / nenhuma militância. Nossos pensares não se misturavam, ideias e atitudes diferentes / eu simbolizava o oposto dos princípios, tu atravessavas com desenvoltura a biblioteca do meu pai e da minha mãe. Verdade, meu querido amigo, embora fosse Lajeado, e eu Porto Alegre / o Rio de Janeiro nos fez de carne e osso, homem e mulher. E o amor foi para Búzios depois Torres. Eu quero te ver.
  4. As linhas não se completam. A memória ela mesma se agita e se mistura toda nas barras dos meus lençóis. Ah! Estas camas perfumadas. O cheiro do amor e da saudade presa num minuto. Não, não podemos agarrar e reter tudo. Há sempre um oxalá atrás do suspiro… E com o tempo escorregando apressado morro abaixo. Subir um desafio, descer assusta, mas a expectativa de voltar ou chegar anima. Divagações! Elizabeth M. B. Mattos – 2025

Fotos do Pedro Moog

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