Domingo (já outono, aquele clima amor e abraço)
Sensação do imperativo. Hoje. Sempre sensação do eterno. Não temporada de vida. Se purgatório, céu ou inferno… Sei lá, sempre um gosto de para sempre.
A memória / ou o que chamo de lembrança se esconde num canto alegre e permanente – o meu equilíbrio de voltar… Quero morar outra vez naquele bairro, aquela casa, aquele apartamento de aconchego. Retomar. Estar outra vez a perseguir o mesmo sonho. Assim, seguido, quero estar outra vez no mesmo sonho. Naquele lugar do tão bom, tão perfeito, tão nosso, tão meu… Paradoxo, não me dou conta que este hoje, este agora, o café com leite, ou a torrada. A preguiça desenhada nas voltas que dou no travesseiro, sem vontade de levantar, vão ter também gosto de eterno, de muito, já no próximo ano, ou na próxima saudade. De passado que poderia ser, quem sabe já uma volta… Voltar pra que eu possa ter dito isso, ou aquilo, festejado aquilo outro. Mais atenta. Mais agora.
Dentro desta reflexão fecho a porta do ateliê para conversar com cores, pincéis. A minha ordem, Terebentina e paleta, remexo nas telas inacabadas, continuo o desenho daquela boca entreaberta… Quero captar o olhar e o cheiro do campo naquela floração ligeira do outono que se transforma em frutas: laranjas, peras, uvas ou manga e carambola. O que eu quero pintar? Nunca sei, mas já faço e esqueço o tempo. Elizabeth M. B. Mattos – março de 2025 – Torres (hoje aniversário do Paulo / um beijo e um carinho)
