Diário Íntimo de Amiel (Henri-Frédéric Amiel ( 3 de junho de 1877 )
“A intimidade feminino, a intimidade platônica e santa me foi tantas vezes concedida, sempre foi no entanto uma fonte de dores, para uma das duas partes, ou mais exatamente para ambas. Mas como proceder? O que me faz morrer foi antes o que me faz viver. O amargo decorre do mel. A Natureza nunca é generosa senão parcialmente, e em aparência. Encontramos o nosso momento em nossa alegria, a nossa punição em nosso privilégio. Para casar-me, teria sido necessário encontrar uma igual, meu complemento, aquele que tivesse satisfeito integralmente o meu ser. Ora, jamais encontrei aquela com quem a ideia de passar toda a vida e toda a eternidade não me causasse um pouco de temor. Sempre percebi o lado da sombra, o limite, a insuficiência, o obstáculo, o ponto ameaçador, e não pude ter a ilusão necessária para a fé. Essa percepção crítica de algum modo impede a amizade, isto é, a afeição que perdoa, encoraja, ergue, suporta, melhora, mas dissipa o prestígio, impede essa admiração encantada que faz ver, em uma determinada mulher, a mulher, a desejada, a única, a suficiente, a esposa, em suma.“(p.455) Henri-Frédéric Amiel Diário Íntimo
Parece tão fora do contexto – bem, é 1800 / categórico – os adjetivos saltam objetivos. Assusta um pouco / arranha o que se entende hoje de escolhas / parceiros… Mas eu o sinto íntegro, corajoso e fiel a ele mesmo… De toda a sua enorme obra / o que chega com reedições e leitura é o DIÁRIO / cada dia… o que posso dizer?
Espiar diários, anotações rápidas, páginas embrionárias / esta nudez do escritor / esta perturbadora exposição é minha coragem. Elizabeth M. B. Mattos – março de 2025 – Torres