tenho pensado em ti desordenadamente / mas, mas, com certeza, os desencontros fortalecem amizade / lembrança / histórias juvenis. Meninos que fomos em dia de estrelas: vimos despencar do céu… Tenho dormido muito, escrevo pouco, enlouqueço mais. Voltei a ler Doris Lessing e gosto, gosto muito. Traduções de quinta categoria – publicação da Record, mas fico igual com a alma no texto. Talvez buscar melhor tradução, melhor edição… Não sei das tuas leituras / conheço mais os teus pincéis e as cores com quem conversas. Os traços desenham alguma coisa, nem sempre definidos…. Igual imagino leituras e me consolo de / por não falarmos, não estarmos nem sermos. Somos invenções. Não é estranho? Existimos? Não sei. Um beijo. Elizabeth M. B. Mattos – março de 2025 – Torres venta e está menos quente / vejo o céu e o movimento = aqui é muito lindo!
Mês: março 2025
YUTIUYTYUITUIIIOOIIYUIIUYT
Abri a porta para correr. Parei no topo da escada. Desci devagar, devagar. Eram 5 andares, e foram, cuidadosamente, vencidos. Abri a porta e me senti tão completamente livre. Aquela aventura não era o bom, nenhuma certeza era possível porque eu já não era exatamente, eu mesma gostando de mim. Conviver com Candal era inventar uma Isabel que não existia. Estava longe de casa: duas horas da madrugada. Usava pulseiras e anéis. Tirei e coloquei na bolsa. Comecei a caminhar, apressei o passo. Caminhei em direção ao Humaitá com rapidez e leveza, senti medo, mas a vontade de me ver livre, sair daquela situação era maior, maior, maior. Passei pela Igreja Santa Margarida Maria – rezei, e segui rezando porque estava quase chegando… Felicidade e alegria escalavam meu corpo. Eu estava chegando… O que diria / ou justificaria no outro dia, já não importava mais. Apenas tinha certeza que aquilo não fazia nenhum sentido. Nada. Eu estava agora, enquanto girava a chave na fechadura, pronta para recomeçar meu tempo de ser eu, livre. Tudo que pudesse significar viver / para mim/ era seria sempre eu mesma do meu tamanho, no meu quadrado e na minha dimensão, no meu losango, no meu círculo, no meu circo. Tudo, tudo dependeria apenas de mim mesma. Eu era eu… Abri os cadernos: arrumei o material para a escola. E entrei na banheira. A água estava morna e aqueles banhos demorados me faziam feliz. Muito feliz. Eu me surpreendi com a minha coragem. Elizabeth M. B. Mattos – março de 2025 – Torres
DORIS LESSING
“Depois da partida de Tom, porém, Julia sentiu-se muito infeliz. Sentia enorme falta dele. O casamento tinha representado para ela uma paz maior do que imaginara. Deixar morrer a parte crítica e inquieta de uma pessoa; deixar-se levar; deixar-se relaxar; apreciar a África como uma região geográfica, como era e como sentia; apreciar as coisas materiais lentamente, sem pressa – aprender tudo isso. imaginava Júlia, a tinha cicatrizado. E agora, sem Tom, ela era nada. Não era apoiada nem aquecida e percebeu que o casamento, afinal de contas, não a curara de coisa nenhuma. Ainda vagueava sem raízes, sem apoio; não fazia parte de lugar algum e nem mesmo a África, de que viera a gostar, significava alguma coisa para ela, realmente; era mais uma região que visitara ligeiramente, como um pássaro migratório.” (p.186) Doris Lessing – Inverno no Mês de Julho (conto) in A Terra do Velho Chefe
…e eu mergulho nesta ‘enorme falta dele’ como se pudesse eu, também, ter procurado um pouco, um carinho, um aconchego, e… mas não te tenho perto / nem longe / não te tenho em lugar nenhum… seria longa minha memória! Elizabeth M.B. Mattos – março de 2025 – Torres

o que incomoda
o que aborrece, o que atrapalha é o desconhecido / o novo. o inesperado, a isca… este entrar e sair: carros magníficos que se movimentam apertados na garagem. a imaginação. vozes de crianças que correm / voam e atravessam as paredes. não existem pessoas / mas viajantes / passantes – momentos / férias /de ocasião / estalam as moedas: sol / chuva / vento e o quente das árvores a dançar, refrescam. Elizabeth M. B. Mattos – março de 2025 – Torres
podemos casar
nesta insônia de verão / parada e morna, ocorreu – me que deveria te pedir em casamento / claro que não posso. mais do que nunca estás casado, feliz, em casa, entre os teus num reencontro tardio e certo, ou melhor, pontual e permanente. sempre foste casado. desde menino casado – teus filhos crescidos. tua vida atropelada mas tão completamente tua que nada, nada, nem deixar de ter adoecido ou deixar de respirar parece ser possível. a minha saudade atropela o tempo, o tempo que nunca, em nenhum segundo, foi nosso. em qualquer possibilidade foi nosso, aliás, tu e eu somos dois desconhecidos descalços, – depois nus, depois vestidos, depois tão sérios e sempre sorridentes a caminhar, dormir. o gosto das risadas e deste atropelo irônico que nos acorda. ou essa insônia amorosa e perdida, inquieta e abusiva. eu não sou eu, nem tu és tu. somos o que imaginamos ser: amantes amados. crianças de famílias com muitas crianças: geração espontânea. e deu / se fez existir / nós dois. hoje neste calor parado, parece perfeito amar e lambuzar as ideias. sem sol, sem terra, sem mar: nós eternos: litros de chá gelado e risadas. era isso que eu queria te dizer sobre te amar e do amor e te dar-te um beijo. Elizabeth M. B. Mattos – março de 2025 – Torres
PARKER 51
liberdade é uma emergência: é preciso ver / saber um pouco de si próprio para ver / entender / olhar de verdade o mundo, os filhos espiar melhor… a marginalidade é um ponto de partida útil / se estamos no meio / entre todos e atuando… não estaremos o suficientemente / adequadamente colocados para a tal autonomia de pensamento / estaremos ‘ desqualificados’
liberdade / distância é uma emergência. Elizabeth M. B. Mattos – março de 2025 – Torres
P.S. querido, estou voltando. com enorme, gigantesca saudade. a distância, o silêncio, esclareceu a grandeza da solidão! e tanto me diverti! tradução de ir, ver pessoas e conversar!
P.S. estou procurando uma caneta Parker tinteiro / seria tocar no sonho / no desejo: se encontrares a certa / compra pra mim. um beijo
o pote de pedra sabão

o bom gosto da Anita, os livros do Roberto, o som se mistura com o bom cheiro da cozinha… o piano, um concerto, a maciez dos tapetes e as cortinas poderosas isolam a luz excessiva da tarde. a mãe sabia desenhar, pintar, dizer, escolher e fazer a beleza acontecer. o pai acolhia com meiguice e ciência e no inverno as três lareiras tinham os nós de pinho a chorar… as revistas ideias padronagens e soluções, os cenários fáceis: amor. ah! sinto o gosto das lágrimas mas eu vou seguir igual meu amor. Elizabeth M. B. Mattos – março de 2025 – Torres
sem dizer

A hora de escutar, mas não dizer. Quando a vida estrangula e a gente vai sentindo devagar… Falta o ar, falta o som, falta saber que tu estás cheio de vida, seguro. Não te escuto, meu amado… Sai daí, corre pelo campo, traz as margaridas. Depois água do poço. Acorda. Senta aqui. Que bom! E me abraça. Vamos comer as uvas e as maças, beber água, e esperar chuva. Eu vou te contar as histórias todas de dançar, ser bonita, ver pessoas, ouvir piano, mas também o teu violão. Comprei as passagens para irmos ao Japão. Não é sensacional? Elizabeth M. B. Mattos – março de 2025 – Torres