coragem

não basta coragem, nem lucidez nem tempo, meu querido, meu amigo: sinto tua falta. tu ainda tão presente no meu corpo! teu cheiro me sufoca. não és tu como parte da pessoa, mas pessoa inteiro: teu antes, teu antes de menino, teu antes de mim, tu completo a me olhar, querer, e educar. não sei como devo ser / como fazer para que nada termine… e eu, como criança, me atrapalho com teus olhos presos nos meus: mágica de enfeitiçar. por que eu, por que tu? sei lá. muita loucura. a garganta me dói de tanto tanto falar… preciso amarrar o som e ficar quieta, calada, silenciosa e sem dor. o corpo, agora, me dói todo. não bastam os exercícios na academia, o levantar e descer/ segurar os pesos, ou esticar as costas. o comando me deixa tonta. acredito não poder mais seguir, vou desmanchar em pedacinhos pequenos. por favor, coloca tudo no teu bolso e me carrega. se abrires o pacote num dia de sol eu te prometo, vou nascer outra vez. e, eu te prometo também a coragem. faremos tudo outra vez, repetiremos todas as aulas e as vontades se acomodarão, tenho certeza. e logo, o livro do amor estará inteiro nas tuas mãos. não posso desmanchar agora, não podes assumir tudo, vamos dividir, então, nossas vontades e incluir neste gozo os pedaços do passado… vou escrever / vou te receber / vou voltar / vou encontrar a leveza… espera por mim meu querido. não te adiante, não me deixa ainda. Elizabeth M. B. Mattos – agosto de 2025 – Torres

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