pitada de Anita

Se devo começar pelos noventa anos, ou pelo começo, não sei. Desde sempre quis escrever e contar. De imediato apenas o que eu intuía como fato, mas sempre medo. A sensação de ser vigiada, de perigo, inquietações que, mais tarde, no internato, na escola eram reais. Quem diria que hoje eu ainda teria medo?! Pensar está perigoso. Na verdade, meu pai lia tanto e sempre e ele e minha mãe conversavam tanto e sobre tudo: brilho solar. Apreendi meio encolhida o amor pelos livros / autonomia / conhecimento é (hoje eu sei) a completa liberdade. Minha mãe, mulher talentosa. Viva, exuberante, transbordava o brilho (adoro o verbo transbordar, no excesso o descuido?) Ou… Uma mulher pequena, pele muito, muito clara, olhos castanhos escuros, uma boca larga, e desenhada, bonita. Um rosto perfeito. As mãos lindas, tratadas. Voz cantante. Forte. Desenhava com maestria, letra e desenho… usava as cores. Na decoração (era mestra) – seus estudos a definiam. Nas roupas, tudo o que tocava era especial, arte. Os estudos em Paris a qualificaram. Francês, o português professoral. Inglês, o suficiente para as revistas de decoração, o espanhol agregado / idiomas e o saber. Na Itália, apenas conversou e foi compreendida e se fez entender… Sim, eu me entusiasmo quando defino minha mãe. Está era é a minha mãe. Pela clara, muito branca, a voz do você…, raramente, usava o pronome tu. Inteligente, lúcida. Minha mãe. Conversar era apreender, necessariamente, o novo, o filosófico, o humano se esparramava… Arte. Ela fumava e as pequenas taças de café preto se espalham no meu imaginário. Mulher extraordinária, visionária e brilhante, este era ANITA Alves de ATHAYDE Mattos. Elizabeth M. B. Mattos – agosto de 2025 – Pernambuco. Porto Alegre. Guaíba. São Leopoldo – Torres – Eu queria comentar das leituras… e o assunto pai e mãe e rua Vitor Hugo e Petrópolis se amontoam e explodem no mesmo tema, minha mãe.

Luiza espiando…

Deixe um comentário