André Gide

voltar a ler Gide parece glorioso, e eu não li todos os livros / li cartas, diários, relatos de viagem e também… mentira, eu mastiguei / engoli: eu li muito André Gide. / no ônibus, em casa – tardes, madrugadas, como que embriagada. Agora Paludes / Les nourritures terrestre… “Nathanael / je veux t´apprendre le ferveur.” o que eu lembro? como seria percorrer outra vez o mesmo caminho, ainda em francês / não venci Les faux monnayeurs / estas questões da crença / das certezas / do conversão… comprar em português? seria outra Beth / outra pessoa / reler é pensar tudo outra vez / o idioma desenha diferente. estou tão distante dos livros, do obsessivo / escrevo aos trancos e barrancos / sem aprofundar / sem transformar / ficou tudo a título de registro. solto. estou apenas sentindo coisas / como revoada e vento. terei tempo para reconstruir / para estudar de verdade / fazer diferente. agarrar um autor / dos meus preferidos e repassar por inteiro… por um momento na minha vida eu exigi o retorno ao português / acertar lacunas / tão relapsa fui… se não escrevo em francês, não posso alimentar apenas um lado do motor. gasolinas / combustíveis diferentes. dar aulas / ganhar a vida / caminhar apressada, casar, namorar, dançar e brincar me desvio do que eu considero o melhor. terei que retomar? recomeçar / voltar? estou inquieta. estou apaixonada, apaixonada por um fantasma. e sendo fantasma não tenho nada. não tenho nada no corpo, nada na alma. estou apaixonada. Elizabeth M. B. Mattos – outubro de 2025 – Torres

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