” Lembro-me de uma manhã em que eu havia descoberto um casulo numa casca de árvore, no momento em que a borboleta rompia o invólucro e se preparava para sair. Esperei bastante tempo, mas estava demorando demais e eu estava com pressa.
Irritado, curvei-me e comecei a esquentá-lo com meu hálito. Eu o esquentava, impaciente e o milagre começou a acontecer diante de mim. Num ritmo mais rápido que o natural, o invólucro se abriu e a borboleta saiu se arrastando.
Nunca hei de esquecer o horror que senti então – suas asas ainda não estavam abertas e, com todo o seu corpinho que tremia, ela se esforçava por desdobrá-las. Curvado por cima dela eu a ajudava com meu hálito. Em vão. Era necessária uma paciente maturação e o desenrolar das asas devia ser feito, lentamente, ao sol. Agora era tarde demais. Meu sopro obrigava a borboleta a se mostrar toda amarrotada, antes do tempo.
Ela se agitou desesperadamente e alguns segundos depois morreu na palma da minha mão. Aquele cadáver é, eu acho, o peso maior que tenho na consciência, pois hoje entendo bem isso, é um peso mortal forçar as grandes leis. Temos que nos apressar, não ficar impacientes e seguir com confiança o ritmo eterno.” NIKOS KAZANTZAKIS

imagino a borboleta a se apressar…apressar o processo de nascer porque havia uma exigência, aquele calor vindo de não sabia onde / um querer mais forte do que seu poder de nascer e voar. senti um aperto ao ler este texto / as exigências / as pressões conscientes ou não, lúdicas ou sérias, todas elas poderosas, talvez mortais. e a dor do menino diante do acontecido… sim, devemos nos apressar na vida, mas devemos aprender a ler a natureza, a nossa, e ter uma paciência mínima para não cometermos erros fatais, mortais. verdade verdadeira: viver é lento ou pode ser apressado assim como uma exigência mal colocada. Elizabeth M. B. Mattos – dezembro de 2025 – Torres

