Ontem eu ri de mim mesma. muito.
Ao entrar em casa fui direto a caixa de correspondência: contas, e uma carta. Senti prazer enorme, era do Paulo. Que surpresa! Uma carta sem eu ter respondido a anterior? Livre e espontânea carta, eu me disse. Agora, inteira de prazer. Ele se importa se escrevo ou não! E lá desci minhas escadinhas rumo ao meu apertamento verde toda vaidosa do amigo.
Não abri logo. Reconhecimento da casa, Luiza esperando gentil, coisa estranha: estamos, as duas, voltando aos estranhamentos. Relações nos consomem. Não abro contas, deixo tudo perto do travesseiro. Durmo cedo. Dormir tem sido a solução: no sono eu venço espaços, converso, visito lugares, soluciono tudo. Estremeço de medo pra acordar e já é outro dia. Acabam os problemas, no sono. Depois vou revendo o tempo numa pergunta doente, o que eu tenho que esperneio sempre quando me apertam? Reclamo. Choramingo. Não tenho mais a risada frouxa ou nunca tive? Passou a novidade e fica na galeria o fantasma inquieto do terror é enfrentar as contradições e o palavrório todo desencontrado de ordens e contra ordens, queixas e lamentos. Na relação direta não é ético comentar. Dou meia volta e estou viajando: se o BAZAR existisse, se estivesse em Torres voltaria a vender livros, perdas doloridas, sonhos acabados. Gostava. Elizabeth M. B. Mattos – maio de 2003 – Porto Alegre