Existem momentos em que a passagem do tempo é percebida de forma aguçada, em especial quando se experimenta a dor. A enxaqueca, que surgiu sem mais nem menos quando eu tinha meus catorze anos, com a cólica, interrompeu minha vida cotidiana. Enquanto eu parava o que estava fazendo e aguentava a dor, cada gota de tempo que caía era uma conta feita de várias lâminas. […] Seguimos em frente na beira do precipício invisível que se renova minuto a minuto. Ao fim deste tempo que vivemos, damos um pequeno passo e, sem interferência ou hesitação, pisamos no ar com o outro pé. Não porque somos especialmente corajosos, mas sim porque não há outra alternativa. Nesse momento também, também sinto esse perigo. Caminho imprudentemente em direção ao tempo que ainda não vivi e ao livro que não escrevi.” (p.12) HAN Kang O livro branco – Editora Todavia São Paulo – 2023
dei a mão a olhar e transcrevi cada palavra para que eu pudesse, com ela sentar, na mesa de um bar e assim, como ela, pudesse escrever sem escrever / irmãs ficaríamos sentadas o tempo necessário. e eu, iludida, acredito que escreveria e contarei, chorarei, sairia mais forte e conseguirei, ou será que vou morrer antes porque está próximo, insônia amorosa, ruídos, cheiros, não sou eu, meu querido. Tua mulher, a legítima te acolhe, não podes ficar comigo /somos comprometidos noutro amor. escorrego para minha cama sem convicção. Tu não vieste. Elizabeth M. B. Mattos .- dezembro eu conto que trabalhar durante um ao na televisão me fez crescer. Escuta Lucas.