Eu me emocionei. Li o artigo em voz alta para a mãe: comentamos, e repetimos como a Luft: dá vontade de chorar pelo resto da vida… porque sentimos a lição de amor-amor. Por tão pouco sucumbimos! Pequenos atalhos da vida. Não vemos a árvore com frutos, mas lamentamos isto ou aquilo com o desconsolo de qualquer frustração, diante do primeiro galho quebrado.
VEJA (12 de setembro 2012) Lya Luft
Então apareceu seu artigo Meu pequeno búlgaro, que me atingiu, e a muitos, como um raio: ali estava um momento extremamente pessoal, uma revelação íntima escrita de maneira singular. Zero sentimentalismo, mas tudo de pungência. Sério, grave, fatal, sem autopiedade nem lamentação, apenas a estranheza diante do fato: o filhinho que por erro médico nasceu com paralisia cerebral. A perplexidade. O não entender. Como não entenderia o idioma búlgaro.
Tempos depois nos conhecemos pessoalmente e lembro de ter comentado, talvez sem muito tato, o artigo, o choque que me havia causado, a admiração e afeto que tinha despertado em mim. Acho que naquele instante sem muitas palavras ficamos amigos, desse jeito de ser amigo de pessoas que quase nunca se encontram, mas sabem que pertencem a uma mesma raça, ainda que não as ligue nenhum fato comum. Mas de alguma forma, a gente “sabe” o outro.
Agora sai o livro de Diogo Mainardi, A Queda, no qual ele fala das experiências de ter um filho “ diferente” e por outro lado tão igual, porque objeto de amor, fonte de alegria e preocupações como todo filho – este, especialmente por sua condição, é, antes de tudo, uma pessoa. Talvez esse seja o legado que Mainardi nos dá falando de Tito (depois dele nasceu outro menino, forte e saudável): ali não está em primeiro lugar um deficiente, um problema, um drama, está um menino. Um filho. Uma pessoa.
22/12 de setembro, 2012/ VEJA. Edição 2286 –ano 45- n.37. Ed ABRIL