O maior vício entre os vícios pode ser a leitura. A leitura obsessiva que faço de mim mesma em tudo o que leio: nos livros que leio. Ao ler não busco apenas idéias novas, mas pensamentos já pensados por mim que adquirem na página selo de confirmação. As palavras dos outros me atingem ao ressoarem numa zona que já é minha. E, fazendo-a vibrar, eu me permito recolher novas sugestões. Neste monólogo, dou-me conta de que as leituras são aos pedaços, inacabadas. Trabalho interno desconcertante.Olho para a mesa cheia de papéis, pastas, folhas. Concentração difícil. Meu artifício para não concluir uma tarefa é a desordem. O caos pode ser este vazio escuro, o início gerador de projeto ou abismo. Esta confusão externa sou eu.
Hoje acordei cedo. Em casa amoleci por dentro.Não importa qual filme, ou programa, o som alerta para o tempo perdido. O silêncio como ameaça. Concentro-me nos últimos capítulos de um texto acadêmico. Preciso finalizar. Leio duas ou três páginas, rabisco, reescrevo. Interrompo. Pela janela vejo o mar. A risca do horizonte.Desordem cinzenta.Há que abastecer, realimentar, continuar e imprimir a pluralidade.Busco nos livros os monólogos, as confissões. Ninguém tem tempo para o tempo do outro. Se aquilo que explico não estiver na pauta, linha, princípio assumido, as palavras ficam soltas. Estico o limite para me aproximar, procuro me fazer entender e faço esforço para compreender quem, e o quê se propõe na interlocução…
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…desconcertante, talvez, por ser a busca da confirmação de ti com o carimbo do outro…