Bilhete
Espero o silêncio. O eventual, não, o impossível. Devo confessar que o apartamento se alarga com vozes, buzinas, freios salientes… Que música! A sala se transforma na calçada, passarela apressada das pessoas.
Vou comprar um quintal com cinamomos e cerva viva. Cães, gatos e passarinhos, grama verde e perfume! Que luxúria! Transito entre a dúvida das certezas! Gosto deste meu eu, mas preciso das pessoas, do movimento, da fala, da expressão, da loucura dos outros junto com a minha. A contrapartida natural da minha cabeça na cabeça do outro. Interesses comuns, a mesma visão, o mesmo mar, e as mesmas andorinhas no fio de luz. Não, não posso ficar a reproduzir desta forma o meu duplo. É preciso janelas abertas pro vento, pro sol, pro norte e pro sul, mesmo quando nada compreendo.
Não adianta mudar de casa, ou esconder-me, tampouco dançar na rua… Trabalho duríssimo este de ser homem! Conhecer limite, e caminhar. Comer pipocas no cinema. Isto não aceito. Tirar os sapatos sim…