Observo o terno bege de linho que Antônio veste. Caminha ora pelo encerado da tábua corrida, ora pelos vermelhos dos tapetes carregando pequenos fardos de tecido. Camisa branca, cambraia. Não usa gravata. Abertos os primeiros botões. Dedos longos. Testa larga. Na loja um rapaz, cabelos puxados para trás, oferece água fresca em copos pequenos. Logo desaparece no fundo da sala. É o verão que se fecha nesta hora mais quente. Rendas expostas em ondas. Sedas como rios. Reparo nos gestos lentos. Escuto a voz mansa, cadenciada. Observo espio, vejo. Levanto os olhos para as estantes. Peças de tecido abertas. Posso escolher. Tocar. Compro, nos metros de algodão, a luxúria. Estou pronta. Antônio segura minhas mãos antes de nos despedirmos. Caminho pela calçada apressada. Sigo meu rumo. Céu ar terra, cores e figuras. Serão apenas ilusão? Sou colorida e madura. Seguro o desejo. Se a Feira do Livro na Praça da Alfândega não estivesse pândega com sua patronesse embaixo de elegantíssimo chapéu de palha, batom vermelho, saia longa escorrendo pelas pernas, olhar vago de musa… Se não estivesse tão quente! Se eu não tivesse entrado na Loja de Tecidos estaria salva nos teus braços, seduzida pelas cores. Sigo com os olhos teus dedos na tinta dos autógrafos. Ausente. Elizabeth M.B.Mattos – janeiro de 2013 – Torres