Porto Alegre que conversando com o social… Poetar, colorir dançar, esquecer pra lembrar! Em 1964 O Golpe Militar!
As atrocidades da Ditadura …Os equívocos. Estaríamos preparadas? Eu não.
1961 – 1962
“A nova cela não me exime de novos interrogatórios e ameaças por parte da equipe do PIC, em plena madrugada, passo a ser acordado com um grito – ‘Flávio Tavares’ – vindo do térreo. É a ordem para me buscarem. Em seguida, ouço o barulho do cadeado, a porta se abre e vêem me levar. Esta mudança brusca do estado letárgico do sono para o despertar muscular do choque elétrico, ou até do simples interrogatório, é uma violência em si mesma. Saio desse mundo em que não estou no mundo – o mundo do sono e do sonho – e entro à força num mundo onde jamais quis estar: o mundo da ameaça e da tortura.” (p. 96) Flávio Tavares – Memórias do Esquecimento – Editora Globo 1999.
“Agora,quando roço a tua pele e no silêncio te sinto estremecer, me pergunto para que evocar o exílio, aqueles longos dez anos em que fomos ‘banidos’, algo extravagante que nos obrigava a vagar pelo mundo sem jamais poder voltar à pátria e ouvir teus sussurros ou descobrir teus olhos verdes-claros ao sol do lugar onde nasci. Eu me lembro tanto ou de tudo que, talvez por isso, tentei esquecer.Quando te amo, este amor enfurecido de beijos e abraços ocupa todo o espaço da memória e, só então, vivo tranquilo e em paz. Sim, minha amada, o que meus olhos viram às vezes tenho vontade de cegar.” (p.12-13)
Flávio Tavares – Memórias do Esquecimento – Editora Globo 1999.
“Antes de abandonar o Fusca, passei um lenço pelas superfícies metálicas internas para apagar as impressões digitais e ainda lhe gritei que voltasse, mas Víctor só moveu a metralhadora a tiracolo de baixo para cima, pedindo que André, o terceiro ocupante do carro, o acompanhasse. Ambos correram em direção a um contingente de quase cem policiais apoiados por helicópteros, enquanto eu fazia exatamente o oposto: recuei a pé, na contramão, voltando em direção ao subúrbio. Instintivamente, eu punha em prática o princípio geral da guerra contido em todos os manuais militares: se o inimigo ataca, recuamos; se o inimigo pára ou recua, atacamos.” (23-24)
Flávio Tavares – Memórias do Esquecimento – Editora Globo 1999.


