Escrevo com tinta de tinteiro. Escrevo, apago, risco. Carta telegrama, código, saudade de te querer, de te esquecer. De lembrar também. No olhar desvendo, nesta percebo… Tens apenas que ler! Na caligrafia pequena, e naquela outra, esparramada, em todas as folhas, visualizo, memorizo. Carrega o beijo minha querida, prepara o abraço. Fecha os olhos. Compreendo.
Defino risco, escrevo. Incendeia tua generosidade. Ondulo a voz. Se um fio vermelho chega vermelho na outra ponta, o outono se faz azul. Sento no tapete, embaralho duas vezes: 4 cartas pra ti, outras 4 pra ele, mais 4 para a Luiza, mais 4 para o Gianfranco, duas pra mim, e terminou, fiquei com o coringa…Como? Queres jogar? Beth Mattos – abri de 2013 – Porto Alegre
29 de julho de 1888
“Agora você me fala do vazio que às vezes sente, e é exatamente a mesma coisa que eu sinto também. Consideremos, se você quiser, a época em que vivemos como uma grande e verdadeira renascença da arte, e a tradição carcomida e oficial que ainda está de pé, mas que no fundo é impotente e preguiçosa, os novos pintores sós, pobres, tratados como loucos, e em conseqüência deste tratamento, ficando realmente loucos ao menos quanto à vida social. Saiba então que você faz exatamente a mesma tarefa que estes pintores primitivos, pois você lhes fornece dinheiro e vende suas telas, o que lhes permite produzir outras. Se um pintor arruína seu caráter trabalhando duro na pintura, que o torna estéril para muitas coisas, para a vida familiar, etc.,etc. Se conseqüentemente, ele pinta não somente com cores, mas também com abnegação e renúncia, e com o coração partido – o seu trabalho não somente também não é pago, mas também lhe custa, exatamente como para um pintor, essa dissipação meio voluntária, meio fortuita, da personalidade. Tudo isto para lhe dizer que, se você faz pintura indiretamente, você é mais produtivo, por exemplo, que eu. Quanto mais você se tornar fatalmente marchand,mais você se tornará artista.”
Vincent Van Gogh
Cartas a Théo – Antologia – LPM POCKET, 1999
Betty, no bucólico cenário de Torres, ergues tua voz, sensível, introspectiva, desafiante como se a brisa do mar fosse o combustível de teu texto poético. És única.Bjs
És poético ao me dizer. Caminhos perdidos, nossa juventude em Petrópolis, fazem parte do teu comentário. Fiquei emocionada. .Carinho e presença em tuas palavras.
reli a nossa conversada, tão bom saber! outra vez, obrigada