
Vitório Gheno, Nádia Raup, Elizabeth M. B. Mattos e
PAULO HECKER FILHO
Em toda a forma de ser há incoerência: extrema incoerência na rigidez dos acontecimentos, os mais perfeitos. A vida desmancha-se em calamidade. Transforma o ser num barro estranho, inconcebível? O homem constrói muros, esculpe, martela, tece as tiras de couro do açoite, forja correntes. O homem quer esquecer, mas é impossível fechar os olhos pois volta sempre e sempre. Sob formas renovada: olhos novos, rigidez nova, cada qual a exigir para si um espaço próprio, um estreitamento a superar o outro. Não consegue. Esfacela-se. Incoerente, tal qual o contato das coisas entre si. Quer ver o mundo ou sentir os outros, perceber e tocar o curso da vida, não consegue… Em todos os lugares encontra a si próprio. E, se deve e também pode captar tudo, ou se consegue apanhar a multiplicidade do mundo segundo a tarefa que se impõe percebe que antes de qualquer ato de vislumbrar, escutar, experimentar esbarra no seu eu…
censura
” Perdoa, mas em verdade estou mal exatamente por não estar aí. Este ‘estar mal’, porém, deixa-me como se fosse um poste de eucalipto fixado ao solo para nada, só para apodrecer. Estou aqui literalmente de mãos amarradas: tudo que faço, quando faço, faço ml, me equivoco. Atarantado, é este o termo. Ando assim. Como o gaúcho daquele poema irônico do Asceno Ferreira: corro intrépido pelos pampas, vou, venho, sempre intrépido. Para que? Para nada. Nem sequer para estar aí…”
” Deixou-nos a vida, nessa usança que dela fizemos, pelo menos o verso da folha de papel ainda intacta, sem máculas ou letras alheias, toda aberta para nós. Para que exigir os dois lados da folha intactos se o que temos a dizer e a escrever basta em um lado apenas? Deleito-me com o verso da folha escrita. Ou posso deleitar-me se o quiser. Posso também não usar o lado ainda virgem. O nele rabiscar desenhos e traços desconexos e, em seguida amassar tudo com a mão direita e jogar no lixo, como fazem todos. Mas eu amo as sobras, o que restou dos cataclismas, os destroços abandonados. Até hoje lembro-me daquela fita da infância, do avião caindo na selva africana, e dele sobrando apenas – com vida – uma criança que os macacos irão criar e que adulto, será o Tarzan.”
Uma volta ao Tarzan, Fantasma ou A Bela e a Fera


