
CONVERSA com Iberê
Lizette Lagnado:
Para escolher ter aula com um artista é preciso admirar sua obra? Como Llote e De Chirico impregnaram um pensamento sobre você?
Iberê Camargo:
Não admiro a obra de Llote. Cito-o como teórico e grande professor. Com De Chirico sinto afinidade porque também expresso solidão e o mistério que envolve as coisas.
Lizette Lagnado:
Num período em que a educação artística só era possível através de reproduções, você diz que foi importante, quando viajou para a Europa, ver um Rembrandt ou um Picasso ao vivo. Se pensarmos na formação da geração atual, este fato ocorre bastante tarde em sua vida.
Iberê Camargo:
Uma viagem ao velho mundo, raiz de nossa cultura, é sempre importante. Ver o original de uma obra é dispensar o intérprete. Não se trata de cedo ou tarde, mas o de saber ver. Milhares de pessoas desfilam pelas galerias do Louvre, olhando sem ver. Newton descobriu a lei da gravidade refletindo sobre a queda de uma maçã. Quantos antes dele foram atingidos por objetos que caíram do alto, sem jamais questionarem a razão da queda. O conhecimento enriquece, a ignorância deprime. (p.21-22)
Conversações com Iberê Camargo – Lisette Lagnado – Iluminuras – 1994
