Sentada diante da tela brilhante do computador penso o poema de Eduardo Alves da Costa
No caminho com Maiakovski.
Penso a repetição marcada dos versos que fazem/são música, e alertam. É terrível acordar amedrontada pelo fazer do outro que atropela. Difícil apagar o sentimento covarde. Eu cedo ao grito que surpreende, ao imutável trivial reprimido. Ao verdadeiro escondido. Desejo apertado, e logo já não é mais. Sei que não devia ser/fazer assim, mas não digo nada. Silêncio permissivo, opressor. E já sem coragem, eu me escondo. Esvaziada me acostumo a tanta coisa proibida, a tanto desejo fatiado, tanta explosão desnecessária! E o passo/andar/ caminhar estancam. Estou no quarto pequeno esquecido. Sem memória cinzenta ou azul. Esqueço de querer, de lutar, de desejar. Abstraída, retraída, lenta. Medrosa. A massa humana conduz, e a mesmice regulada. E deste tempo passado já não consigo mudar nada.Elizabeth M.B. Mattos – setembro de 2013 – Torres
No caminho com Maiakovski
“[…] Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor
do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem; pisam as flores,matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz, e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada. […]”