No fundo de seus olhos azuis houve um lampejo, um brilho intenso de tristeza. E raiva. Que cena tão simples havia sido lembrada? Tão mansa e tão dilacerante. O dia que tudo terminou? Ou a certeza que neste tempo já não há mais luz? A entrega definitiva, sem volta, sem perguntas esvazia expressão, altera voz, e olhar. Os sonhos não são os seus sonhos, nem são suas as escolhas, ou decisões. Aos poucos se assimila a vida do outro… A esta entrega chamamos amor. Perdoa se eu o feri ao abandoná-lo, também não deixei de me ferir. Descobrir o vazio, este enorme nada também doeu. Temi você pensar que eu me reservava à parte mais agradável de nosso amor sem me preocupar em deixar-lhe o lado desagradável. Não é verdade. Se fracassei em dar-lhe a felicidade que um grande amor deveria proporcionar, quero te dizer que também eu me senti infeliz por fracassar. Você me fez falta de todas as maneiras, em todos os instantes, e a ideia de meu erro, por mais de uma vez me fez absolutamente infeliz. Assim eu procuro restabelecer a mesma convicção. Vozes, odores, toques, rosas, petúnias, hortênsias e cravos, laranjas, pêssegos e morangos. Sem esquecer as amoras azuis, e das lágrimas que me sufocam neste momento de adeus.