Explicar o sentimento. Dar a receita. Transformar em risada tua angustia. Solucionar entraves. Desfazer o zelo em consolo. Contar da ansiedade miúda. Engodo, mentira, e o faz de conta da infância… Igualar sentimentos. Afeto certo. Respeito. Visão destorcida da paixão que por si só explica, ou justifica. Desmentir o pavor interno de possível rejeição. A escolha de estar apenas em si mesma, luxo excêntrico. O jeito errado de não ter medo. Ser indesejável na solidão consciente. A festa de balões verdes… Trauma da infância ilegítima, e sem mãe. Marilyn Monroe. O sentimento do abandono. Expor, recontar, repartir, inventar. Queixas ranhetas, lembranças esquecidas: um guardanapo com monograma. Livro encadernado de vermelho. Ordem. Beleza. Excesso na simplicidade. Um tapete branco. Hortência. O retrato. É preciso sentir amor no milagre escondido, na natureza humana, do desabrochar da flor, na chuva, na terra, na areia do mar…. Procurar no sentido absoluto porque tudo já está encontrado, achado. Explicar desejo. Certeza absoluta. O fio imaginário na estante cheia de livros não lidos, sem pó. O escuro.
Subiu as escadas até o terceiro pavimento sem dificuldade. Bateu, tocou a campainha. Logo a porta se abriu devagar, por inteiro. Eugênia vestia azul. Cabelos puxados para trás. A expressão lisa, talvez feliz, abraça Olivia. Elizabeth M.B. Mattos – fevereiro 2014 – Torres