“Sou constante, sim, com orgulho, no caminho das minhas indefinições. […]”
“Minha indefinição me faz aceitar cada pessoa como é e leva os demais a me atribuírem uma qualidade que não é minha, é dela (indefinição). Quem me chamar de bom confundira a capacidade de aceitação plena de pessoas e coisas, com bondade. Bondade é uma ação na direção do outro. Os definidos (quando bons) o são muito mais do que eu. Mas a mansidão de minha compreensão, meu medo de ter verdades, minha expectativa ante o enigma, é compreendido com bondade apenas porque nada impõe, pede, cobra ou exige dos outros. Às vezes sou lúcido demais para ser bom. A indefinição me faz partícula de algum cristal, ou mistério alquímico feito para refletir a natureza inteira, filtrando todas as suas cores e irradiações. A minha indefinição é a minha humildade ante o cosmos. A certeza de que não o posso limitar nas fronteiras do meu pobre entendimento. […] A realidade é sempre mais ampla. Ao aprisioná-la (sempre por momentos), não retemos. Sabê-la é transformá-la. Verbalizá-la é privá-la de plenitude. A palavra não esgota a realidade. E até para pensar eu só tenho palavras. Palavras cruzadas. Jogo de palavras. (…)” Artur da Távora
Fotos – Parque Laje – Rio de Janeiro – Pedro Moog

