1.
Bolachas recheadas, amêndoas, mel, um caneco com leite. Um cacho de uvas rosadas, leite e banana, uma colher de sorvete. Duas fatias de pão preto, duas fatias de peito de peru defumado, alface, tomate, pepino em conserva. Camarão refogado, pão e salada verde: folhas de rúcula, alface americana, e salsa picada. Um abacaxi de Terra de Areia.
Vestido de estampa: amarelo, beterraba, verde, e marrom. Cabelos cacheados, presos por um grampo. Algumas pontas escorregam pelo pescoço. O decote comportado, mangas japonesas. Os olhos estão desenhados com lápis preto por fora, e outro avermelhado. Os cílios são longos. Boca rosada. Brincos pendentes. Grandes, e no pescoço, dois colares de pérolas barrocas, e dois de cristal. Ainda corrente de elos douro. Flores colhidas no campo nascem junto as cercas: amarelas e roxas. Posso convidar as meninas para uma conversa de esconder, separar, brincar…Segredar.
Um dia um homem mais velho, rico, bem rico, bem velho me convidou para jantar. Eu fui. Noite de risadas, escritos, bilhetes seguiram outras risadas, noite de não dormir. Nunca mais voltei. Esqueci de mim. O nome, o português, a nova língua aprendi em um mês, falo russo. Alongo as pernas em calçadas, restaurantes, espetáculos e beijos. Veludo, rendas, joias, tardes de sol. Sono, sonhos entre sonhos.
2.
Morreu o escritor e jornalista Antônio Carlos Resende
Igual a ti só no inferno, Roubai-vos uns aos outros. Fiéis infiéis, Jairo e seus diabos. O rapaz que suava só do lado direito, estes são da memória.Vou sentir saudade do amigo.
Resende, Antônio Carlos: O rapaz que suava só do lado direito, coleção RBS Editora Globo, Porto Alegre, 1979.
“Tomo hoje a decisão de começar a análise e vou logo contando pro cara,”
A página final, o trecho do suicídio, é sem dúvida um belo exemplo de arte literária, nenhuma concessão ao lugar comum, nem ao sentimentalismo, somente o ritmo de uma espécie de pressa lenta, e uma ânsia funda que se adensa na dança das palavras. Na linguagem, a espontaneidade coloquial do falar gaúcho. Tanta coisa a ser lembrada, dita, escrita.
Bife na chapa, ovo frito, batatas, uma cerveja. Na madrugada de ficar ao teu lado. Vou comer um cachorro quente daqueles secos, com pouca mostarda. Beber Coca-Cola. Chorar. Chorar bastante. Ler o que ainda não li. Hoje é só bobagem… Faz tanto tempo que é só bobagem! Comprei violetas para tua mulher. Levarei lírios e rosas. Perfumam. Não sei o que faço. Aprendi tanta coisa com teu cuidado! Obrigada amigo!
A mesa estava cheia de coisas boas para comermos…Um café preto. Teus incentivos. Elizabeth M.B. Mattos – fevereiro – 2015 – Porto Alegre